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 Crise Financeira 2.0 
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Mensagem Crise Financeira 2.0
15 de Setembro de 2008 não é uma data qualquer ...

foi neste dia que fomos informados da falência de um dos maiores bancos americanos, o Lehman Brothers;
este facto acabou por entornar o copo da indústria de produtos financeiros, arrastando consigo uma crise de crédito generalizada, ao abrandamento do comércio mundial e arrefecimento económico global;

num mundo cada vez mais global, onde a economia de cada um cada vez mais está correlacionada com as economias dos outros, e apesar de muitos países registarem um baixo grau de exposição à crise, todos apanharam um grande susto;

no final da década de 90, e após algumas crises financeiras e cambiais de âmbito regional mas com algum impacto global, as maiores economias mundiais tinham construído um novo instrumento de coordenação financeira e colaboração cambial, o G-20;

a crise de 2008, promoveu a importância deste mecanismo, acrescentando a componente política indispensável, para implementar um vasto conjunto de reformas; como se costuma dizer "casa roubada trancas na porta";

o acordo mínimo alcançado, passou por tomar um conjunto de medidas profiláticas no sistema financeiro e bancário internacional; as palavras chave passaram a ser mais regulação, regulamentação, verificação e concertação; ficou de fora a concertação nas medidas paliativas, isto é, os blocos económicos reagiram de modo diverso e difuso, porque os seus níveis de exposição e posição no ciclo eram diferentes, e acima de tudo porque tinham "argumentos" distintos;

de facto a situação melhorou; vejamos o caso português; os cinco grandes (CGD, BCP, BES, BPI e Santander) estão melhores, têm vindo a limpar os cancros dos seus balanços com os consequentes prejuízos, mas era inevitável; limparam imparidades, activos tóxicos e crédito mal parado; por outro lado estão a concluir o processo de desalavacagem, isto é, os rácios de crédito concedido sobre depósitos captados tem vindo a diminuir para patamares menos arriscados; efectuaram aumentos de capital e reforçaram a estrutura de capitais permanentes; pelo caminho caíram o BPN e o BPP com os prejuízos a sobrarem para os contribuintes; mas se hoje fosse efectuado um balanço comparativo com a situação em 2008, posso afirmar que estamos melhor; não vou discutir a repartição dos custos associados ao caminho percorrido (entre accionistas, depositantes e contribuintes); por último devo salientar o reforço substancial das regras de supervisão do BdP, da CMVM e do BCE (e até da troika);

hoje 15 de Setembro de 2013, volvidos 5 anos, o sistema financeiro e bancário mundial está mais seguro ?

depois de ler variadas fontes, estou convencido que a resposta correcta é "nim" ...

sim porque:
- parte da classe política já está convencida da dimensão dos danos multilaterais de uma nova implosão;
- os mecanismos de colaboração cambial multilateral estão a funcionar melhor;
- existe um maior escrutínio sobre o sistema financeiro;

não porque:
- pela persistência de um fenómeno "shadow banking" de proporções e contornos pouco conhecidos;
- pelos efeitos colaterais de algumas políticas excessivas de "quantitative easing";
- porque a implementação de muitas medidas ficou a "meio da ponte";


em resumo, continuamos a descobrir que algumas das velhas práticas não foram debeladas, por outro lado a relação entre a economia financeira e a economia real estabilizou no eixo atlântico, mas degradou-se no sudoeste asiático; estas últimas economias, cuja influência global e sistémica tem aumentado, têm sistemas financeiros menos transparentes e saudáveis; apesar de vivermos tempos algo diferentes, neste 5 anos, a comunidade internacional não deu passos necessários para arredar muitos dos ingredientes que estiveram na génese da crise de 2008;

assim sendo, a probabilidade de ocorrer uma crise financeira 2.0, não é de todo desprezível ...

no meu entender, se vier a suceder, terá contornos mais severos:
- a crise poderá nascer a partir de uma grande economia emergente;
- forte e imediata contracção do crédito entre ocidente e oriente;
- regresso (pelo menos passageiro) ao proteccionismo económico;
- movimentos bruscos e acentuados nos preços das matérias-primas;
- agudizar de tensões regionais ou o renascimento de velhos conflitos;

----------------------------------------------------------------------------

uma última ideia

todos aprendemos na vida que no presente podemos construir o futuro;
também aprendemos que é conhecendo o passado que melhor compreendemos o presente;
estamos de acordo que se aplica às pessoas, às famílias, às empresas, às nações e à humanidade;

no momento actual, o cerne da crise financeira é o crédito;
a quantidade concedida e o nível elevado de risco associado;
em termos simples, crédito é o compromisso de rendimentos futuros;

assim sendo o actual paradigma do capitalismo, levado a um extremo de crédito, está a induzir uma alteração na relação temporal, isto é, cada vez mais o futuro condiciona o nosso presente, retirando-lhe a capacidade de recriar o futuro ...

estarei a exagerar ?


desde já endereço o convite aos confrades que se interessam por estes assuntos, que postem as suas ideias e contribuam para uma discussão pública profícua e clarificadora ...

os meus agradecimentos :smt023

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15 Set 2013

 
 
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Mensagem Re: Crise Financeira 2.0
Tema interessante e pertinente; apesar disso, ninguém comenta. Acho que terá a ver com o facto de todos estarmos frustrados e cansados ao ouvir os especialistas pagos a peso de ouro fazer e dizer disparates - e fazem disparates com o dinheiro que é de todos nós, hipotecam o nosso futuro e impedem-nos de realizar os nossos projectos.

Estamos inquietos com aquilo que se passa actualmente, mas as crises são habituais no mundo em que vivemos - e já o eram no passado. Estive a dar uma olhada no site do FMI e vi um texto que diz mais ou menos isto "O volume de empréstimos concedidos pelo FMI tem flutuado significativamente ao longo do tempo. O choque do petróleo da década de 1970 e a crise da dívida da década de 1980 ambos foram seguidos por aumentos acentuados dos empréstimos do FMI. Na década de 1990, o processo de transição na Europa Central e Oriental e as crises nas economias emergentes levou a novas ondas de demanda por recursos do FMI. Crises profundas na América Latina e Turquia manteve a demanda por recursos do FMI elevados no início de 2000. Empréstimos do FMI voltaram a subir no final de 2008, na esteira da crise financeira global."

Isto é como os incêndios na Austrália, na Califórnia, em Espanha, em Itália, em Portugal, as inundações no Colorado, na Europa Central, no Brasil e mais outras tragédias que acontecem por toda a parte. O problema com a economia é, na minha opinião, que estes fenómenos naturais são mais ou menos localizados e a economia é cada vez mais global. A governabilidade do mundo e a segurança ganhariam se as coisas fossem um pouco compartimentada; haveria uma espécie de diques e os problemas ficariam confinados.

15 Set 2013
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Mensagem Re: Crise Financeira 2.0
jolinho Escreveu:
Tema interessante e pertinente; apesar disso, ninguém comenta.

Estes assuntos não são para quem quer comentar... é para quem pode, e sabe... e como eu não sei, aguardo que os que saibam comentem pra ir aprendendo alguma coisa... :smt045 :smt045 :smt045

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15 Set 2013
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Mensagem Re: Crise Financeira 2.0
O ke digo é isto, a banca brinca autenticamente com o nosso dinheiro e fazem movimentações que nem vale a pena sonharmos.Quanto á seriedade da mesma veja-se o caso BPP, BPN, BANIF, etc etc O crash começa como sempre nos USA com a especulação da bolsa e vai por ai em diante xegando" aquele continente" com uma estrutura perfeitamente medieval e decadente. Como prova disso é a situação vigente!!! E mais não digo!!

15 Set 2013
Confrade

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Mensagem Re: Crise Financeira 2.0
kwacha Escreveu:
15 de Setembro de 2008 não é uma data qualquer ...


assim sendo o actual paradigma do capitalismo, levado a um extremo de crédito, está a induzir uma alteração na relação temporal, isto é, cada vez mais o futuro condiciona o nosso presente, retirando-lhe a capacidade de recriar o futuro ...

estarei a exagerar ?


Confrade "kwacha" este é um tema que nos acompanha no dia a dia muito embora não nos apercebamos disso, tal como temos conhecimento que a Terra gira mas nunca sabemos quando estamos de " pernas para o ar " vamos sentindo que as coisas estão a mudar mas não temos nem a visão nem a dimensão real do quanto é alterado e tal como diz o Radar ...

estes assuntos não são para quem quer comentar... é para quem pode, e sabe..

por isso trago aqui uma visão de quem deve saber um pouco mais sobre do que estamos a falar ...

Para o Nobel da Economia e ex-diretor do Banco Mundial, o veredito é sem apelo:

o capitalismo tornou-se ineficaz, instável e injusto.

Neste fim de mandato de Obama um dos temas mais discutidos atualmente no outro lado do Atlântico é aquele que esteve no fulcro do movimento Occupy Wall Street: a explosão das desigualdades!
Na sua mais recente obra dedicada a esse cataclismo social e económico Joseph Stiglitz constata com amargura o aumento do muro de separação entre os ricos e os pobres: O que se passa nos Estados Unidos é muito simples: os ricos enriquecem (…) os pobres empobrecem e aumentam em número, esvaziando-se a classe média.
Trata-se de uma realidade a que a recente listagem dos mais ricos norte-americanos na revista Forbes deu expressão com a evidência deles terem aumentado o seu património em 13% em apenas um ano! Nada que se compare com tudo quanto sucedeu desde a Grande Depressão até agora! Quer se trate de diferenças salariais ou de rendimentos do capital, as desigualdades agravam-se mais do que em qualquer outro país industrializado.
Stiglitz apresenta muitos exemplos demonstrativos das suas teses, mas basta retermos dois: de há trinta anos para cá, os salários só aumentaram 15% para os 90% menor remunerados, enquanto para os salários de topo (1%) cresceram 150%. E, se ainda restringirmos o filtro ao 0,1% de topo esse aumento ultrapassa os 300%.
O outro exemplo que diz tudo em si mesmo mostra que 1/5 da população detém cerca de 85% da fortuna do país.
Para o Nobel da Economia e ex-diretor do Banco Mundial, o veredito é sem apelo: o capitalismo tornou-se ineficaz, instável e injusto.
Mais límpido e implacável do que nunca, Joseph Stiglitz enuncia as causas do enorme fracasso desta forma de capitalismo cada vez mais disfuncional.
A desigualdade não nasceu das forças abstratas do mercado, mas da sua implementação pelas forças políticas: mundialização mal gerida orientada quase sempre para a satisfação dos interesses particulares; esmagamento dos sindicatos; política estatal em favor dos ricos; controle do mercado das ideias e dos meios de comunicação por parte dos mais ricos e colocados inteiramente ao seu serviço.
Stiglitz oferece um quadro eloquente da vasta batalha das ideias empreendida pela direita americana: os ricos tentam enquadrar o debate de uma forma que sirva os seus interesses, porque compreendem que, numa democracia não podem impor pura e simplesmente a sua vontade aos outros (…) Nem sempre ganham.
Mas, quando estamos longe de uma batalha com armas iguais para convencer que o que é bom para 1% da população não é bom para todos - redução de impostos, do défice e da dimensão do Estado - subsiste uma boa notícia: a política económica pode inverter essa dinâmica o que Stiglitz se esforça por demonstrar através de um conjunto de trinta propostas destinadas a devolver à América o sentido da igualdade de oportunidades e a impedir a cisão cada vez maior entre as diferentes classes. Se é que ainda se vai a tempo!

«O Preço da Desigualdade» de Joseph E. Stiglitz

:smt023

16 Set 2013
Confrade

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Mensagem Re: Crise Financeira 2.0
kwacha Escreveu:
no momento actual, o cerne da crise financeira é o crédito;
a quantidade concedida e o nível elevado de risco associado;
em termos simples, crédito é o compromisso de rendimentos futuros;

assim sendo o actual paradigma do capitalismo, levado a um extremo de crédito, está a induzir uma alteração na relação temporal, isto é, cada vez mais o futuro condiciona o nosso presente, retirando-lhe a capacidade de recriar o futuro ...

estarei a exagerar ?


Na minha perspetiva, o racional que apresentas é sólido e coerente, mas para uma perspetiva macro, que depois não pode ser transposto para dimensões micro / práticas da construção desse futuro.

O que explicas, pode justificar o porquê dos grupos económicos investirem menos ou não investirem de todo. Contudo, eu penso que a construção do futuro depende muito mais do virar de mentalidades dos portugueses que, nos últimos 20 anos habituaram-se muito mais a viver de empregos, do que a usarem o cérebro para serem empreendedores. Ser-se empreendedor não é ter uma Microsoft ou uma Virgin... é ter uma bancada de jornais, uma tasca, uma roulote, ter um negócio de tartes, uma loja de roupa, vender copinhos de ginja, vender um serviço com uma componente personalizada... Coisas simples que não exigem milhares de investimento dependente de crédito. E são esses empresários que - geralmente eram muitos (muitos o governo até fechou a porta) e cujas atividades requerem pouco investimento - faltam entre nós. Esta crise há-de levar-nos a desenvolver novamente essas competências. Por exemplo, este mês estive em Berlim, e vi centenas destes pequenos negócios, que requerem muito baixo investimento:

Imagem

Numa perspetiva macro, tudo é cíclico. Por exemplo, os EUA já tiveram o mais perfeito sistema de responsabilidade social / corporativa do mundo, mas à medida que o mundo começou a torna-se 'fácil' foram desregulando, até ficar nada ou quase nada, e que levou a práticas de alavancagem e selvajaria comercial, cujos resultados hoje conhecemos. Os sistemas hão-de voltar a regular de novo, de modo a moderar práticas socialmente pouco responsáveis, e daqui a 30 anos, vamos sofrer novamente do mesmo. And so on.

Quanto à crise financeira 2.0, estou em crer também que possa ocorrer. Mas não de uma economia emergente. Eu viro-me mais para outros países da europa que ainda não desalanvacaram efetivamente.

E qual seria a alternativa ao capitalismo? Economia planificada que suavizaria todos os ups & downs conjunturais?
Estou curioso em conhecer as soluções dos críticos ao modelo capitalista.

este assunto, tinha pano para mangas...

16 Set 2013
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Mensagem Re: Crise Financeira 2.0
Falta sobretudo hoje em dia bom senso.

Se tivesse havido bom senso não haveria tanta casa para vender. Em que estudos se basearam os promotores imobiliários na última década? A banca financiou em força, até os promotores começarem a não pagar os financiamentos. O que pensava a banca? Que cada português ia comprar segunda, terceira ou quarta casa? Que pensavam os compradores? Que o imobiliário valoriza sempre?

Se tivesse havido bom senso os estudantes não escolheriam cursos sem qualquer hipótese de saída profissional - e não teriam sido autorizadas tantas escolas superiores, muitas delas com cursos estranhos.

Veja-se a questão da banca. O BPN e o BPP foram de vela, o BCP não foi porque era maior. Quanto dinheiro já perderam os accionistas do BCP? Onde é que esses "investidores" tinham a cabeça quando compraram as acções?

Muitos problemas acontecem porque se vive muitas vezes num mundo de fantasia. A fantasia nunca adere à realidade e a factura vem mais tarde.

16 Set 2013
Confrade

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Mensagem Re: Crise Financeira 2.0
...
Na minha perspetiva, o racional que apresentas é sólido e coerente, mas para uma perspetiva macro, que depois não pode ser transposto para dimensões micro / práticas da construção desse futuro.

O que explicas, pode justificar o porquê dos grupos económicos investirem menos ou não investirem de todo. Contudo, eu penso que a construção do futuro depende muito mais do virar dementalidades dos portugueses que, nos últimos 20 anos habituaram-se muito mais a viver de empregos, do que a usarem o cérebro para serem empreendedores. Ser-se empreendedor não é ter uma Microsoft ou uma Virgin... é ter uma bancada de jornais, uma tasca, uma roulote, ter um negócio de tartes, uma loja de roupa, vender copinhos de ginja, vender um serviço com uma componente personalizada... Coisas simples que não exigem milhares de investimento dependente de crédito. E são esses empresários que - geralmente eram muitos (muitos o governo até fechou a porta) e cujas atividades requerem pouco investimento - faltam entre nós.Esta crise há-de levar-nos a desenvolver novamente essas competências. Por exemplo, este mês estive em Berlim, e vi centenas destes pequenos negócios, que requerem muito baixo investimento:


Imagem


Confrade gpgrelo não poderia estar mais de acordo com a sua análise sobre este assunto, não só porque a minha vivência dos últimos 15 anos tem na prática aquilo que diz e òbviamente não vou por aqui a nu , mas que se pode perfeitamente enquadrar no que sublinhei das suas palavras, os chamados " nichos de mercado " e o resultado disso é que posso dizer, até para encorajar quem porventura já pensou nisso mas está tão habituado a trabalhar por conta de outrém e ter o vencimento ao fim do mês :?: que tem medo de dar o passo seguinte, é que a " crise " de que se fala e que já afectou muita gente, também levo com ela por arrasto, mas não chega para me fazer " mossa " na medida que sou eu quem gere tudo ( ou quase tudo ) e que tenho na mão o meu destino ( pequeno mas meu ) se assim se pode dizer ...

acha saúde [-o<

este assunto, tinha pano para mangas... sem dúvida :!: :!: :!:

:smt023

16 Set 2013
Confrade

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Mensagem Re: Crise Financeira 2.0
Eu contra mim falo, Aranha. Há 10 anos que atingi o meu nível de competência no que faço. Já me passou mil vezes pela ideia abrir um escritório de vão de escada. Mas nunca abri. Porquê? Bónus ao fim do ano, comissões, falta de tempo, perseguição governamental, mas acima de tudo, preguicite. Pura e dura. Sempre estudei muito para ser um qualificado útil, não ter que me chatear com o drama do desemprego e ter que arranjar uma solução.

Se eu abrisse um tasco, o standard of service seria melhor do que o que me é permitido aplicar onde eu trabalho, o custo seria mais baixo do que o que tenho que orçamentar em projeto... tenho todas as condições para ter sucesso. Portanto, pura preguicite. Burro diria.

100.000 gajos como eu, a pensar como eu, são o verdadeiro problema deste país. Porque neles reside o know how para dinamizar negócios, gerar dinâmicas concorrencias, criar empregos... mas não assumem as suas responsabilidades para com o pais, se é que se pode entender isso desta forma. Faço-me sempre ao paralelismo de todos aqueles que são grande gajos a debitar programas de investimento, a dizer "invistam", "tornem-se empreendedores", que são os gajos que tem guito e know how, mas que depois dão de sola quando chega a hora H.

Há limitações em portugal para se fazer o que aquele gajo faz em berlim a vender salsichas: a ASAE fodia-lhe logo o negócio porque não tinha uma rede mosquiteira a proteger as salsichas de uma contaminação. Se a ASAE metesse o nariz em berlim e levasse umas valentes ferroadas do trilião de abelhas que voa naquela cidade 24/7, acho que metiam berlim em quarentena. É por estas e por outros que também é muito dificil fazer-se alguma coisa em portugal a partir do 0... e é aí que entra a perspetiva do kwacha... só os grandes grupos podem fazer investimento (a SONAE deve ter umas 200 marcas de negócios em portugal), e esses são muito afetados pelo crédito a conta-gota. Portugal é um pais muito complicado, onde queremos tudo, mas simultaneamente temos 5000000 de condições para que qualquer coisa possa ser viável. Vais a alemanha, frança, inglaterra, espanha... é (aparentemente) muito fácil. Nunca mais me esqueço de há uns 3 anos ter entrado num café / restaurante numa estrada em espanha, e ter a percepção de que tinha entrado num curral de porcos tal a quantidade de lixo que populava naquele chão. Se fosse em portugal, a vizinhança teria feito uma denúncia e a asae estava lá 3 horas depois. Em espanha, entra quem quer. Na bélgica, se entrar num café às 17.45, o dono diz-te logo que vai fechar... em portugal, convida a trabalhar overtime. Em inglaterra, ninguém vende nada abaixo do preço de custo... em portugal, inventa-se promoções a 50%, cuja promoção é paga pelo produtor. Portugal é um pais muito complicado. Eu costumo dizer que na europa há duas partes: a de lá e a de cá dos pirinéus. É por estas e por outras que há muita gente a ir para a parte de lá.

hazta

16 Set 2013
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Mensagem Re: Crise Financeira 2.0
http://videos.sapo.pt/NVep0EPjt4TKFbntN3hC

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16 Set 2013
Diamante
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Mensagem Re: Crise Financeira 2.0
Terei a oportunidade (quando tiver tempo pois é um tema extenso) de comentar este tópico, mas devo desde já destacar os óptimos contributos de alguns posts. :smt023 :smt023

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16 Set 2013
Prata
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Mensagem Re: Crise Financeira 2.0
gpgrelo Escreveu:
100.000 gajos como eu, a pensar como eu, são o verdadeiro problema deste país


... e, agora a seguir, deveria dizer-se "o que é preciso é uma revolução nas mentalidades". Como se diz sempre. :roll:

A questão é que, tirando os vendedores de banha da cobra como aquele Miguel Gonçalves que o Relvas inventou, :smt003 nunca ninguém esclareceu como se faz isso. Na farmácia não se compra, repetir eternamente a ideia não tem dado resultado, grande parte dos gajos que se aventuraram a ter "uma bancada de jornais, uma tasca, uma roulote, um negócio de tartes, uma loja de roupa, vender copinhos de ginja", estão na merda... como é?

16 Set 2013
Ouro
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Mensagem Re: Crise Financeira 2.0
ok, eu entendo, os confrades têm optado por explanar as vossas preocupações no campo da economia ...

muito bem, vou dar dois exemplos de oportunidades desperdiçadas para a criação de mini clusters, de alto valor acrescentado, e virados para a exportação ...

1976

nesta data, Portugal detinha um dos centros mais desenvolvidos no estudo da malária (vulgo paludismo);
por força da nossa presença ultramarina, acabámos por iniciar os estudos e formar equipas no combate à doença, efectuar investigação e produzir alguns antídotos;
fizemos a descolonização, para os portugueses acabaram os mosquitos, e nunca mais ligámos ao assunto;
mas o mosquito lá ficou e a malária também; nunca olhámos para a questão como um negócio, e que tínhamos vantagens comparativas em prosseguir a investigação;
no final dos anos noventa, espanhóis, americanos e brasileiros resolveram investir nesta área, recentemente começaram a aparecer os primeiros resultados;
estimativas recentes da OMS, no pressuposto do negócio ser feito com genéricos, avançam que este mercado será superior a 6 mil milhões de dólares; nós vamos passar ao lado;

2006

nesta data estamos em plena negociação do 3º Quadro Comunitário de Apoio;
nos quadros anteriores já tínhamos feito uma data de asneiras, mas não aprendemos;
desde do ano 2000, que se confirma a tendência para o envelhecimento da nossa população;
há vários anos que sabemos que a prazo vamos alterar diversas coisas, entre as quais a assistência a idosos;
para além disso Portugal, entre os países europeus, tem dos climas mais amenos e favoráveis para a terceira idade; não tem conflitos e já possui uma rede razoável de infraestruturas;
as recentes fornadas de reformados do centro e norte europeu, é a primeira geração "baby boomer", que possuem rendimentos razoáveis e sistemas de protecção elevados (públicos e privados); estou a falar numa população alvo acima dos 50 milhões de pessoas, com um rendimento médio anual superior a 40.000 euros;
pois em 2006, não fomos capazes de perspectivar esta área de negócio e canalizar estímulos comunitários para este sector; turismo, saúde, lazer, cultura e serviços de geriatria;
tínhamos e temos tudo para dar certo, mas nem o Estado nem o sector privado repararam na oportunidade;

---------------------------------------

dei dois exemplos, e como estes haverá muito mais ...
propositadamente escolhi estes exemplos com um intervalo de 30 anos ...
e porquê ? para melhor explicar que em alguns aspectos as elites não mudaram muito ...
também foi propositado escolher situações que se prendem com a exportação ...
e porquê ? porque o mercado interno é pequeno, e será sempre pequeno ...

estes dois exemplos poderiam ser casos de sucesso, se o Estado criasse as condições iniciais, bastava meia dúzia de grandes empresas assumissem o desafio, e teriam arrastado centenas de pequenas empresas ...

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no caso português, o nosso maior deficit é de elites com visão estratégica ...
em 1989, com a queda do muro de Berlim, era fácil perceber que o capitalismo tinha saído vencedor, e que os países da Europa de Leste iriam ingressar na CEE;
em 1991, quando negociámos o 1º QCA, foi com objectivo expresso de uma integração europeia mais profunda, descurando o resto do mundo; na mesma data assinámos Maastricht; colocámos os ovos todos no mesmo cesto;
foi preciso bater com a cabeça na parede dez vezes para mudar;
em 2003, com Durão Barroso, percebemos que tínhamos de dar enfoque a outros mercados; na altura elegemos o Atlântico Sul, e desenvolver o triângulo Portugal-Brasil-Angola;
mais uma vez, quando foi para passar a acção fomos sem nexo, aos repelões e sem estratégia clara;
é verdade que esta área do mundo cresceu nas relações comerciais, mas hoje poderia valer o triplo;
passamos o tempo a desperdiçar oportunidades ...

:smt023

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16 Set 2013
Prata
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Mensagem Re: Crise Financeira 2.0
kwacha Escreveu:
passamos o tempo a desperdiçar oportunidades ...


... pois... e volto a perguntar: como se modifica isso?

16 Set 2013
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Mensagem Re: Crise Financeira 2.0
Infelizmente não modifica o esquema já tá muito bem montado para tál ( e digo infelizmente ) não acontecer!!!!

16 Set 2013
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