Caros Confrades


Independentemente do clube do coração de cada um, julgo que a maioria de nós reconhece, que o desporto nacional, nomeadamente as SAD do futebol, vivem acima das suas possibilidades financeiras e com passivos insustentáveis. Haverá com certeza excepções, mas o panorama geral é muito sombrio. Salários em atraso, incumprimento de contratos, etc são sintomas de que a maioria está "no elástico". E quando os resultados não aparecem o elástico parte. O problema não é novo, e os clubes e as SADs, com a ajuda do poder político, foram sempre encontrando "soluções". Primeiro foi o "totonegócio", depois as ajudas camarárias através de operações imobiliárias ou de apoios financeiros explícitos, a seguir foi a antecipação das receitas televisivas, e por último foi a abertura do capital (por outras palavras do poder) a "investidores nacionais", exemplo desta última é a SAD do Benfica e do Porto.

Nos últimos anos, por esta Europa fora, fomos assistindo à entrada de capitais "fáceis" no mundo do futebol. Com origem nos países árabes (Málaga, PSG, Arsenal, etc), do lado russo (Chelsea e Mónaco) e até americanos (Manchester United). Recentemente começou-se a falar que capitais provenientes do extremo oriente também se interessarem por este sector de actividade.

Em Portugal, segundo julgo saber existe uma experiência pequena e mal sucedida que é o Beira-Mar.

Hoje, tomei conhecimento que capitais angolanos irão entrar na SAD do Sporting, tomando 26% do capital. É uma posição de controlo, e terá com certeza o beneplácito do BCP e do BES, entidades financeiras credoras da SAD leonina, e que por sua vez tem nos seus corpos accionistas uma presença crescente de capitais angolanos. O círculo está a ficar fechado.

http://desporto.sapo.pt/futebol/primeira_liga/artigo/2013/06/21/grupo_angolano_o_novo_investid.html

E qual é o objectivo ?

Amor à camisola ? Sou do Sporting desde pequenino ! Não me parece !
Investimento à procura de rentabilidade ? Também não me parece !
Benfica e Porto estarão a salvo de investidas desta natureza ?

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Eu tenho uma opinião formada, mas gostaria de promover o debate público sobre este fenómeno.
Sobre as consequências, as fragilidades, e a envolvente externa via UEFA (competição e fair play).


Desde já grato pela vossa participação como espectadores atentos da realidade desportiva portuguesa.

Cumprimentos

Confrade Kwacha,

Conheço razoavelmente bem a situação e modo de funcionamento dos 3 grandes. Tenho inclusivamente conhecidos na estrutura elevada dos 3, para além de que profissionalmente sou fornecedor quer do Sporting como do Benfica.

Do meu humilde conhecimento indico-lhe que o meu clube (Benfica) há 10 anos estava numa situação pior do que aquela que agora está o Sporting ou seja, com os credores todos à perna. Nessa altura a minha empresa colocou inclusivamente um processo sobre o clube, mas que depois se resolveu extrajudicialmente. Hoje, quem está num momento dramático é o Sporting com dividas enormes aos credores e processos acima de processos.

Do Porto sei de fonte segura que a questão da venda do Hulk foi obrigatória pois já não havia para salários e que este ano o Porto está a fazer o mesmo que o Sporting ou seja a despedir funcionários, só não é visível pois não chega aos jogadores. O Benfica está ligeiramente melhor.

Não é por ser o meu clube, até porque é cíclico, mas quem está melhor financeiramente é o Benfica, seguido do Porto estando o Sporting a anos luz. Quando vejo pessoas a falarem dos passivos apenas tenho vontade de rir, pois o passivo é uma parte do balanço, onde constam os activos e o capital próprios, mas falar de passivos é mais sensasionalista. Outra questão é que este passivo pode ser consolidado, incluindo as dividas dos estádios ou não.

Desde que a divida esteja estruturada o passivo só é um problema pelos juros que paga. Neste momento o Benfica e o Porto têm as dividas estruturadas e o Sporting e está a tratar neste momento (ainda bem). Aqui o problema são as receitas para suportar financeiramente o serviço da divida que terão de ser elevadas.

Tudo isto para dizer que a entrada de capitais estrangeiros nos clubes pode ser inevitável, mas que o Sporting está muito mais vulnerável neste momento. Posso afirmar que a anterior administração nem conseguiu investidores estrangeiros e o Godinho andou por todo o mundo. Ou seja, existem pessoas com medo dos investidores estrangeiros, mas atenção que o nosso mercado nem é especialmente atractivo para tal.

De todo o modo não sou contrario a investidores, pois ninguém quer perder dinheiro. Lembro o casos do Manchester em que os donos pouco interferem na gestão desportiva, pois interessa-lhes mais o brand managing. Caso o investidor seja um Abrahmovic melhor para o adepto, pois ele gasta o dinheiro dele. Os adeptos ficam com os títulos.

Por fim quero acrescentar que pelo menos o Benfica, em termos estatutários não pode perder a maioria do capital.

Confrade Matic


Grato por ter respondido à temática.

Mas o que eu gostava de ser objecto de "discussão" pública são as consequências.

E uma das consequências fundamentais é uma espécie de ruptura com o passado.

Os sócios passam a ser irrelevantes e os simpatizantes ganham outra dimensão.

Haverá outras diferenças com certeza, com consequências várias ...

Por exemplo há quem veja o Benfica, o Porto e o Sporting como marcas ... marcas internacionais pelo menos no mundo lusófono ...
Para um país que tem poucas marcas, e muito menos internacionais, não sei se os sócios e os adeptos portugueses estão preparados ...

Kwacha,

Naquilo que escrevi, abordei o facto de haver ou não a necessidade dessa entrada de capitais e a suposta possibilidade de isso acontecer, contudo finalizei respondendo à sua pergunta se o Benfica e Porto podem estar também sujeitos, sendo que indiquei que pelo menos o Benfica só mudando os estatutos, pois nos mesmos indica expressamente que o clube não pode perder a maioria da SAD. O Sporting para já ainda não perdeu a maioria, segundo julgo saber.

Para além de ser claramente do Benfica (sócio e simpatizante) o que futebolisticamente me leva a ser tendencioso a favor do meu clube, sou também uma pessoa muito interessada no negocio futebol, onde procuro ler e documentar-me sobre o negócio por detrás do campo e nesse caso já sou mais clarividente.

Nesse prisma, tal como também indiquei acima, não sou contrário à entrada de investidores estrangeiros, em primeiro lugar porque quem investe não tem por intenção enfraquecer o clube ou deteriorar a sua marca, antes pelo contrario pretende expandi-la para tirar dividendos e em segundo lugar caso se trate de um investidor como no Chelsea, Mónaco ou PSG o adepto fica a ganhar pelas super mais valias desportivas que o dinheiro que entra trás.

O único ponto negativo de um investimento estrangeiro é quando o "mecenas" trás jogadores caríssimos e passado alguns anos desiste do "brinquedo" deixando o clube numa situação caótica e carregado de dividas.

No que concerne ao Sporting sou favorável à entrada de capital (até porque não existem muitas outras hipóteses para o clube de Alvalade) quer seja pela entrada de dinheiro que faz muita falta, bem como pelo auxilio que um investidor pode dar na abertura de novos caminhos comerciais, neste caso o mercado africano.

já faltou mais ... mas um dia eles vão "assaltar" o nosso rectângulo ... aguardemos ...


Hafiz Mammadov, multimilionário azeri, promete ser concorrência séria aos milhões do Mónaco e do PSG. Comprou o Lens, é proprietário do Baku FK, já investiu no Atlético de Madrid e estuda fazê-lo no FC Porto.

http://rr.sapo.pt/bolabranca_detalhe.aspx?fid=4&did=130208

Essa questão dos sócios é algo de outros tempos.

Por exemplo, nos Estados Unidos todas as equipas dos desportos profissionais têm "donos", bilionários, lá não há isso dos sócios, há adeptos.
E muitas dessas equipas têm longas histórias com momentos marcantes.
Não é por as equipas terem "donos" que os seus adeptos são menos apaixonados que os do Benfica, Porto ou Sporting.
Lá até muitas vezes algumas equipas mudam de cidade.

E sempre que existe um processo de criação de SAD é dada oportunidade aos sócios de investirem e serem eles os donos das SADs. Se não querem investir e ajudar os clube creio que também não têm razão para se queixarem.
Falam que são apaixonados pelos clubes, que dão a vida por eles mas as direcções que arruinaram os clubes foram eleitas por eles.
Os sócios a maior parte das vezes são como as pessoas nas eleições, não têm inteligência, votam em quem promete mais coisas, esquecendo os custos.

Basta ver o processo de criação da SAD do Guimarães.
Toda a gente diz que os guimaranenses são dos mais apaixonados pelo clube, mas quando foi a criação da SAD ninguém comprou acções.
E alguém aproveitou e ficou com o control por "apenas" 500.000 euros.
Então se o Guimarães tem uns 20.000 sócios, bastava cada um dar 25 euros extra para continuarem a controlar o clube.
Não creio que 25 euros seja uma fortuna.

Em termos da situação financeira dos clubes em Portugal, tem existido porque não existe responsabilização pessoal dos actos de má gestão das direcções.
Na França e na Alemanha, existem organismos que todos os anos auditam as contas dos clubes e os obrigam a corrigirem os desequilibrios financeiros de uns anos para os outros, mas mesmo a sério, não é como em Portugal que dizem que existe control financeiro sobre os clubes.
Basta dar como exemplo um artigo do LÉquipe, que colocava a divida das equipas da Ligue em 80 milhões de euros, e a das equipas da 1ª divisão portuguesa em 800 milhões, da qual 95% dos 3 grandes.
Nunca nenhum deve quando se está a jogar o campeonato, lá aparecem sempre todas as certidões, e depois no final da época é os jogadores a queixarem-se que lhes devem mais de meatde da época.

Em relação aos 3 grandes os benfiquistas andam iludidos todos os anos mas o que está a acontecer ao sporting é mais fácil repetir-se lá do que com o Porto.
O passivo já é de mais de 400 milhões de euros, o dobro do Porto, e a equipa do Benfica não vale mais do que a do Porto.
Na prática os jogadores são a grande fonte de receita dos clubes, algum deles vai vender o Estádio para pagar as dívidas?

E lembrem-se que todas as dívidas são para ser pagas.

No Público de ontem vinha um artigo bastante bem conseguido, para o que costuma ser normal, sobre as finanças dos clubes portugueses. Na verdade quase só sobre as finanças dos 3 grandes.

Apenas a confirmar o que eu já disse aqui atrás.

O próximo Sporting é o Benfica e não o Porto.

Já agora qual é o valor do Benfica e qual é o valor do Porto?

Convém não esquecer que o Sporting tem uma estrutura de custos muito inferior aos rivais, o Porto tem uma estrutura de custos muito grande para o nosso mercado, se por hipótese tem 2 épocas sem grandes sucessos desportivos, rapidamente um passivo na ordem dos 200 milhões resvala para perto dos 300 milhões e torna-se impossível de gerir nos moldes comptitivos actuais do Porto, depois será uma transição muito complicada, em tudo idêntica à que o Sporting atravessa.

O Porto é o único dos 3 grandes que tem um modelo competitivo e de gestão em funcionamento há muito tempo, tem sabido gerir compras e vendas de jogadores como mais nenhum clube em Portugal consegue, fruto do sucesso desportivo que conseguiu dentro e fora, o problema é quando esse sucesso desportivo abrandar, seja pelo ressurgimento dos rivais, que está a acontecer, quer pelo abrandamento do próprio Porto, que me parece também bem visível.

O Benfica é um caso à parte, parece estruturalmente equilibrado mas não é assim, a sua estrutura de custos é também muito acima da nossa realidade e olhando para as contas facilmente se percebe que há ali uma "bolha" que pode rebentar a qualquer momento, basta olhar para o passivo actual, o modelo competitivo actual, etc, tem tudo para correr mal.

Resumindo, dos 3 grandes, o Sporting é o único que está em contra-ciclo, bateu no fundo e foi obrigado a uma redução drástica de custos, aproveitamento maximizado das camadas jovens, diminuição de funcionários, etc, este é o caminho actual, não é só no futebol, é em todas as empresas.

O Sporting (na minha maneira de ver Sportinguista) irá dominar (desportivamente o futebol nacional a curto prazo) por ter batido no fundo e estar já a crescer....digo isto porque acho k os slb e fcp tambem irao bater no fundo....

estou de acordo em boa parte sobre as fragilidades actuais dos 3 grandes ...

mas o passivo bancário e os restantes passivos são uma parte do problema ...

quando os "senhores" da UEFA, das marcas globais, das TVs etc, decidirem nova ruptura na canalização das receitas, é que vamos ver ...

em tempos existiu um embrião, o G14 ... acabou por dar origem a uma associação europeia de clubes ...

mas quando voltar a existir uma pressão entre o mundo global e o mundo local, vamos contar tostões ...

calma, o tempo acabará por se encarregar de virar o boneco, quem puder vai, quem não puder fica por aqui ...

Faltam aqui pormenores importantes sobre esta mega-conspiração global descoberta aqui no fórum.

Explique lá melhor essa nova "pressão entre o mundo global e o mundo local", quem é o "boneco" que vai virar, os "senhores" da UEFA.

Será melhor ligar ao agente Scully?

Nota prévia: Certas pessoas escrevem aqui e pensam que estão a escrever no site da bola ou do record (sites de desporto) onde os ataques clubisticos desprovidos de qualquer lógica e com excesso de agressividade imperam. Nesses sites é que se vêm disparates e posts tão ilógicos que só por muito boa vontade é que se lhe dá a mínima importância.

Isto é um site/fórum sobre acompanhantes.

O importante:
O que o confrade Kwacha quis dizer é que um dia o dinheiro deixa de entrar com tanta abundância e quem não estiver preparado para esses tempos vai cair. Aliás podemos comparar esses possíveis tempos futuros com o que aconteceu com o nosso país. Quando fecharam o credito o país caiu neste precipício onde agora se encontra.

Não sou tão pessimista como o confrade Kwacha, referindo-me especificamente ao Benfica e ao Porto, na medida em que as dividas estão estruturadas e com taxas de juros inferiores às que agora se praticam, mas terá de haver por partes destes dois clubes um esforço nos próximos anos de redução da divida consolidada, sob pena de que quando os empréstimos agora em vigor chegarem ao fim da vida útil, os juros subam demasiado para níveis incomportáveis. Acredito que estes 2 clubes sabem bem o que andam a fazer e que se andam a preparar. No Sporting a situação hoje é mais complicada.

Mas uma coisa é certa. Os valores pagos actualmente pela UEFA, tv's, etc são irrealistas e vão começar a descer. Alguém acha normal pagar-se mais de 20 milhões de euros a um clube por 15 jogos em casa? Num país como Portugal é um absurdo, tanto que as TV's em sinal aberto rejeitaram dar 300 mil euros por jogo.

está tudo publicado experimente mudar de jornal pode ser que encontre



eu tive a oportunidade de olhar para um estudo feito por uma consultora internacional, e reparei na evolução recente de alguns indicadores ou relações entre as contas de exploração e os desequilíbrios de balanço:

a) as SADs nunca tiveram "poupanças";
b) o endividamento é sempre crescente;
c) exposição maior a interesses terceiros;
d) receitas europeias cada vez mais críticas;
e) elasticidade crescente entre desempenho e solvabilidade (ficar em 3º lugar já é um desastre);
etc etc etc


eu já não vou falar dos actuais e futuros problemas subjacentes ao governance e à estrutura accionista dos dois clubes

como diz o ditado popular "a ocasião faz o ladrão"

na UEFA e nas "sedes do dinheiro", ganha peso a ideia de uma Liga Europeia à moda americana (com diversas nuances) ...

se o Platini transitar para a FIFA, observando a linha de sucessão de interesses, veremos se vai ocorrer uma clarificação ....

Eu falei de dividas estruturadas, não de balanços estruturados

O Benfica e o Porto tem "bons" empréstimos de médio e longo prazo.

Em relação aos balanços, o que sei é que um dos principais activos são os jogadores e não existe propriamente uma euronext para avaliar os passes e dizer que tal jogador vale x ou y. Os jogadores são avaliados ao custo de aquisição , pelo que um jogador da formação não tem valor patrimonial. É muito difícil avaliar o balanço de um clube.

Num ponto estamos de acordo. Dividas tão altas é muito perigoso e não é propriamente fácil fazer um aumento de capital sem perder a maioria, na medida em que os estatutos não o permitem.