Marc Escreveu:
Hás-de-me explicar como é que o partido que mais abusou das PPPs está mais virado para o social.
Desde logo pelas causas que defende e pelas medidas que tomou enquanto esteve no poder, tais como:
- Lojas do Cidadão - um bom exemplo de integração de serviços que facilita a vida às pessoas e que acabou por ser copiado por vários países, daqueles que toda a gente acha que são desenvolvidos mas só depois de viver lá é que nos apercebemos que não é bem assim
- Rendimento Mínimo Garantido que ajudou muita gente a sair do limiar da pobreza e ajudou o país a melhorar muitos indicadores económicos que anteriormente não o deixavam ficar bem nos quadros comparativos da OCDE. E é algo que existe em vários países desenvolvidos, capitalistas, como Reino Unido, Canadá, etc... e que também têm os mesmos problemas de fraude que existem por cá.
- Investimento na ciência e apoio à cultura que não sendo coisas que dão lucro imediato acabam por contribuir para o desenvolvimento do país. Nunca se formaram tantos doutorados... Lisboa e Porto entraram nos roteiros da cultura onde já estavam cidades como Barcelona, Viena, Florença, etc
- Investimento nas energias limpas como barragens, centrais eólicas, etc, que não dão lucro imediato mas reduzem a dependência energética e contribuem para um país mais sustentável. Estas são medidas puramente viradas para o social, porque são causas dos partidos mais virados à esquerda, veja-se o caso do Partido Democrata nos EUA, protagonizado por Al-Gore.
- Criação de entidades reguladoras nos mais diversos sectores da economia e que permitem o controle do capitalismo selvagem e o crescimento de certos monopólios. Se não fosse assim, era só lucro, lucro e mais lucro. E as pessoas, onde é que estão?
- Criação da ASAE que infelizmente teve algumas medidas fundamentalistas mas que não deixa de ser um bom instrumento para a defesa do consumidor e um impulso a uma sociedade moderna e civilizada onde o binómio Lucro, Qualidade andam de mãos dadas
Poderia citar mais exemplos, mas tudo isto, são coisas viradas para o social.
Quanto às PPPs é certo que houve um exagero mas foi pena que só no fim é que as pessoas deram conta. Quando o modelo das PPPs foi importado da Inglaterra, no final dos anos oitenta, ninguém disse nada e todos os empresários esfregaram as mãos. É sempre mais fácil falar mal no fim do jogo. Ainda assim, nem todas as PPPs dão prejuízos. Veja-se o caso de alguns hospitais como por exemplo o da Amadora-Sintra que não dá lucro aos privados, estes querem sair mas o Estado diz-lhes que a concessão ainda não terminou e eles têm que garantir as operações até ao fim do período contratual. Só se fala das PPPs que de facto dão prejuízos como a Ponte Vasco da Gama e a manutenção da Ponte 25 de Abril, ambas negociadas pelo PSD. Depois há uma série de auto-estradas negociadas por ambos os partidos sendo que eventualmente o PS terá feito mais PPPs porque fez mais obras. Lembro-me claramente do Marques Mendes, na altura em que era líder do PSD e estava na oposição, como nos telejornais criticava o Guterres por liderar um governo que não fazia obras como os governos do Cavaco fizeram e ainda dizia que o Guterres só estava preocupado com os cidadãos. Depois veio o Sócrates e fez montes montes de obras com PPPs.
O que vale é que hoje toda a gente meteu o rabinho entre as pernas e já ninguém quer obras porque a factura é muito pesada. Mas houve um tempo em que as obras (com PPPs) eram uma marca dos governos laranja.
A pior PPP foi criada recentemente pelo Ministro da Educação, Nuno Crato, e chama-se cheque-ensino.
Marc Escreveu:
Estamos num país em que a corrupção, principalmente na política, é uma rotina. Logo, falar em ideologias é pura demagogia.
Infelizmente, o ser humano não é perfeito. É da natureza humana prevaricar e tal como já afirmei aqui, os partidos são feitos de pessoas. Depois há uma componente socio-cultural no meio disto. Por exemplo na Escandinávia o índice de corrupção é reduzido mas eles têm outros problemas... Nos países africanos e latino-americanos a corrupção bate todos os records. Veja-se o caso vergonhoso de Angola em que o país está a saque. Tudo é muito relativo...
O facto de haver pessoas corruptas nos partidos que defendem determinadas ideologias não nos pode fazer pensar que todos os políticos são demagogos. Se assim for qualquer dia não acreditamos em nada e quando isso acontecer deixamos ter um rumo ou pior do que isso deixamos de ter partidos com ideologias. Se isso acontecer, então é melhor transformar o governo numa Comissão Executiva, privatizar a nação e entregá-la aos privados para gerir. Depois nem será preciso votar. O país fica cotado no PSI-20 e passa a funcionar ao sabor dos mercados. Numa manhã vale 10 biliões e à tarde o índice desvaloriza e já vale 1 milhão.