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 CM - Alterne: Dez mil mulheres vendem-se em bares 
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Mensagem CM - Alterne: Dez mil mulheres vendem-se em bares
Uma pequena campainha embutida em cimento e pedra, iluminada por luz branca, é o único sinal de vivalma na madrugada. A casa de primeiro andar está virada para a estação dos comboios de Alcains, separada do muro de betão que resguarda a linha apenas pela estrada. Há alguns carros parados. A porta fechada abre-se a espaços e deixa entrar homens e segredos mal guardados. "Nós somos psicólogas da noite!" A frase de Lívia, uma alternadeira brasileira de 39 anos, estala como um flash numa sala exígua, com luz difusa, equipada com um sofá e uma pequena mesa.

É a mais recatada do Expresso Bar, destinada a convívios privados e divide--a das que a antecedem apenas um cortinado. O proprietário da casa, Vítor Lourenço, de 44 anos, lamenta que a associação da prostituição ao alterne prejudique o negócio. 'Aqui já houve ‘sobe e desce’ [bares com pisos superiores ou anexos onde se pratica sexo]. O mesmo conceito aplica-se às ‘casas de saída’, mas agora não, porque eu vivo no primeiro andar.'

As estimativas dos empresários do sector indicam que em Portugal há 30 mil mulheres a viver do sexo, mais de dez mil das quais são alternadeiras – uma média de 12 por cada um dos 884 bares existentes. As restantes praticam a prostituição em apartamentos (15 mil), na rua e à beira das estradas.

Os donos de uma dezena de bares que os jornalistas do CM visitaram durante três dias, nos distritos de Castelo Branco, Guarda e Viseu, concordam em pelo menos dois aspectos: negam incentivar ou explorar a prostituição (o que constitui o crime de lenocínio), mas afirmam que os concorrentes o fazem. 'No mínimo, os bares de alterne são os preliminares da prostituição', diz um agente de autoridade da Beira Interior, que conhece o meio por várias razões, incluindo as profissionais.

Lívia, solteira, com três filhos (um deles maior de idade), que começou a alternar há dois anos, cansada dos 380 euros mensais que ganhava como ajudante de cozinheira e frustrada com o País encantado que lhe prometeram no Brasil e não encontrou, é um exemplo de como as duas actividades estão interligadas. Em pouco tempo as explicações de que o alterne é 'só diversão' para os homens desabafarem os seus problemas com as esposas, os negócios, a crise e a vida – daí considerar-se psicóloga – dão lugar a conteúdos eróticos, encaminhadores da prática de sexo. O nosso repórter fotográfico acabaria convidado a pagar uma 'saidinha' num carro estacionado junto ao Expresso Bar. Negou, mas antes não escapou a alguns apalpões directos ao assunto!

Na zona histórica de Viseu, Alexandre, que explora o bar Pecados com um irmão, também defende a teoria da terapia nocturna: 'O alterne é uma forma de psicologia. As meninas ouvem os homens sobre os seus problemas com os negócios, as esposas, a família e quando desabafam as suas mágoas ou se divorciam.' Por isso, quando tomou conta da casa, há menos de um ano, mandou embora 'as que faziam prostituição'. As outras podem continuar a praticá-la após o horário de expediente.

A percepção existente entre os conhecedores do negócio do sexo é que apenas uma minoria das mulheres se dedica em exclusividade ao alterne.
'Uma das minhas meninas ganha entre cem e 150 euros por dia no apartamento', diz Vítor Lourenço. O bar é quase como um part--time e uma forma de conhecer clientes.

No Interior do País – entre a concorrência apertada dos espanhóis, das prostitutas abrigadas em apartamentos e a falta de dinheiro dos clientes, há muitos night clubs de qualidade, em nada semelhantes ao rés-do--chão do Expresso Bar.
Em Represa, à entrada de Castelo Branco, o Paraíso Tropical só erra o nome porque as sete meninas dispostas a conviver a troco de uma bebida são romenas. Uma excepção na estatística, já que 80 por cento das mulheres da noite é brasileira, seguindo-se as oriundas dos países de Leste, África e Portugal. O Paraíso Tropical é um edifício novo, situado numa encosta, com uma grande piscina e uma vista deslumbrante sobre a paisagem, mesmo de noite. 'Aqui até vêm casais sem qualquer problema', diz o gerente, Abílio Cruz e Sousa, de 58 anos, há 35 a trabalhar nos negócios da noite. E estas meninas não se prostituem? 'Aqui não há quartos e o que fazem depois de sair é com elas', responde.

Uma das principais críticas das mulheres da noite – além da falta de regulamentação do alterne e da prostituição e as fiscalizações sistemáticas do SEF, GNR e ASAE – relaciona-se com os valores praticados pelas prostitutas dos chamados convívios. Estas têm descido muito os preços, havendo quem cobre sexo por dez euros, enquanto numbarumabebida com direito a acompanhante custa pelo menos 15 euros. As alternadeiras recebem apenasumaparte.Uma delas, Diana, natural da Covilhã, 25 anos, afirma que 'o alterne rende metade da prostituição nos apartamentos'. 'Agora faço 1300 euros por mês e quando andava na prostituição ganhava três mil', reforça a mulher, casada, com dois filhos, que se prostituiu entre os 19 e os 23 anos. A brasileira Lívia ganha entre dois mil e 2500 euros.

Por outro lado, a abertura de bares e de casas de ‘sobe e desce’ na zona fronteiriça, do lado espanhol, tem atraído cada vez mais portugueses: os clientes porque beneficiam da garantia de anonimato e preços em conta e as meninas porque ganham mais dinheiro.
No submundo do alterne, onde são comuns os dramas, as tragédias pessoais e a violência, conta-se histórias de gente com a vida enterrada em problemas de saúde e dinheiro. A maior parte, pouco verdadeiras, serve para iludir ou reconfortar os clientes, levá-los a consumir e a escaparàrealidade,num ambiente com algumas regras nos night clubs mas menos quando as portas se fecham de madrugada. Enquanto Diana diz que a mãe tem um cancro e Lívia jura 'por Nossa Senhora de Fátima que não sabia ao que vinha', Fernanda, uma brasileira de 26 anos, solteira, volta à conversa do costume: 'Os homens são carentes porque as esposas xingam eles e não fazem o que eles querem.'

CERVEJA DE 38 CÊNTIMOS VENDIDA A MAIS DE 5 EUROS
No Interior português há empresários que reclamam quebras de rendimento na ordem dos 50 por cento, mas os estabelecimentos continuam a abrir, como acontece em Viseu. É que as margens de lucro são boas: uma cerveja comprada a 38 cêntimos é vendida, no mínimo, a cinco euros. As bebidas das acompanhantes, pagas a pelo menos 25 euros, muitas vezes rotuladas de champanhe e uísque, são quase só cola, água ou chá. Apesar das dificuldades apontadas por meninas e proprietários destes night clubs, calcula-se que os negócios da prostituição/alterne rendam 2,5 mil milhões de euros por ano – seriam 700 milhões de euros em impostos para o Estado se estas actividades estivessem regulamentadas, como é reclamado pelos empresários. A alternadeira Fernanda, há pouco mais de um ano na actividade – que antes foi empregada de mesa, por 800 euros mensais – diz que há 'homens que chegam a gastar mil ou 1500 euros' numa noite – o que prova a rentabilidade do negócio. Que já foi maior, antes da crise económica e da concorrência espanhola.

BARES PARA TODOS OS GOSTOS
A maior parte dos bares onde os jornalistas do Correio da Manhã estiveram tem uma área central com pista de dança, à volta da qual estão sentadas as meninas a conviver e a beber com os clientes, algumas em zonas mais recatadas, com sofás confortáveis e pouca luz. Os sistemas de videovigilância e os seguranças//porteiros também predominam. O Expresso Bar – onde o dono faz o trabalho de barman e de porteiro – e o Pecados são os mais simples, menos decorados. Em contrapartida, o Éden Place e o Paraíso Tropical são sofisticados: têm um ar de discoteca, mais limpo, salas amplas e materiais mais luxuosos. No último, o próprio gerente anda fardado e denota profissionalismo como nos grandes night clubs do Litoral. O ambiente, poluído de tabaco, é geralmente intimista, a não ser quando a madrugada já vai longa e o álcool começa a desinibir as mentes e os corpos.

A maioria dos clientes tem mais de 40 anos e é casada, como constatam vários estudos nesta área. A generalidade das meninas diz ter entre vinte e trinta anos, embora muitas aparentem mais idade. Em nenhum dos bares há imigrantes ilegais a trabalhar, segundo os donos. Os jornalistas – que se identificaram sempre – só foram impedidos de entrar no bar Cristal de Opa 2, à entrada de Escalos de Cima, Castelo Branco.

EMPRESÁRIOS DEFENDEM A REGULAMENTAÇÃO DA ACTIVIDADE
JORGE DE SOUSA
- 28 anos, abriu em Março o Paraíso da Sé no centro histórico de Viseu

Correio da Manhã – Abriu o bar há muito pouco tempo. Está a correr bem?
Jorge de Sousa – O negócio vai bem, embora as despesas sejam elevadas. Só para a Sociedade Portuguesa de Autores são 300 euros mensais.

– A casa tem algumas diferenças das outras.
– Sim. As mulheres não têm horário de entrada, só de saída, nem qualquer ligação ao dono. Não tenho nenhum compromisso com asmulheres.Nãotêmsalários fixos.

– Mas tem funcionários…
– Tenho quatro, um dos quais a minha mulher.

– Defende a regulamentação do alterne?
– Defendo, porque agora o dinheiro vai quase todo para o estrangeiro, quando uma parte poderia ficar no País através dos impostos. Mas não estou de acordo em ganhar dinheiro com o corpo delas.

– De onde são as 12 ou 13 meninas que estão no bar?
– A maioria são brasileiras, romenas e portuguesas.

– Porque decidiu investir no sector?
– Já estou no ramo há oito anos e aprendicomalgumasdaspessoas quemelhoroconhecem. Vi que poderia ser uma boa oportunidade.

ABÍLIO CRUZ E SOUSA
- 58 anos, gerente do Paraíso Tropical, em Represa
Correio da Manhã – O que faz a diferença entre esta casa e as outras?
Abílio Sousa – É uma casa de espectáculos, com striptease, música ao vivo e uma piscina exterior onde os homens vêm desanuviar do dia-a-dia. Às vezes vêm casais.

– Mas as meninas alternam?
– Sim. É uma casa de alterne. Mas aqui não há ‘sobe e desce’, nem ‘saídas’ porque não temos quartos.

– Teve alguma actividade anterior a esta?
– Trabalho na noite há 35 anos e sou casado com uma brasileira que tirei desta vida.

– O que acha da eventual regulamentação do alterne e da prostituição?
– O alterne devia ser regulamentado como as outras profissões, para podermos pagar impostos e fazer contratos escritos às mulheres, que assim são verbais. Os escritos não correspondem à profissão verdadeira. A regulamentação separava em definitivo esta actividade da prostituição, embora também entenda que a prostituição deveria ter uma regulamentação própria.

– Quais as maiores dificuldades no sector?
– Há uma grande quebra na actividade por causa da perseguição das autoridades policiais à prostituição e às imigrantes ilegais.

JOAQUIM VARANDAS
- 65 anos, proprietário do Éden Place, em Castelo Branco
Correio da Manhã – Sempre trabalhou neste negócio?
Joaquim Varandas – Sempre tive restaurantes e bares. Até tive uma casa em Lisboa, a Disco L, no largo de Santa Bárbara.

– Nota diferenças entre o alterne no Interior do País e nas grandes cidades?
– É a mesma coisa, com excepção de algumas grandes casas de Lisboa. Há de tudo nas cidades e na província.

– O Éden Place não é uma ‘casa de saída’?
– Não. Aqui só há alterne. Na região este é o único alterne verdadeiro. Só tenho uma sala de acompanhantes. O que fazem lá fora é com elas, aqui não tolero a prostituição.

– Os outros bares não são…
– Não falo dos outros. Aqui temos 12 meninas (oito brasileiras e as restantesportuguesaseuma ucraniana). Estão todas legais, há uma selecção e uma limpeza total.

– Tem o bar há cinco anos. O negócio está a correr bem?
– Não. Vive-se tempos de crise. Há uma quebra de mais de 50 por cento nos consumos dos clientes e muita concorrênciadeEspanha, que fica a apenas 70 quilómetros.

NOTAS
CENTRO E NORTE SÃO AS ZONAS PREFERIDAS
As zonas Norte, Centro e a raiana então entre as preferidas das imigrantes com destino às casas de alterne. No caso da fronteira, isso deve-se ao facto de muitas entrarem no País vindas de Espanha

MOMENTO TRÁGICO ACONTECEU EM 1997
O pior crime relacionado com os negócios da noite aconteceu no bar Mea Culpa em Amarante, em 1997, quando 13 clientes ficaram carbonizados num fogo posto, resultado de uma vingança

IMIGRAÇÃO E TRÁFICO ESTÃO RELACIONADOS
O tráfico de mulheres e a presença de imigrantes ilegais no País, associados a redes criminosas, estão muito relacionados com a indústria do sexo, mas em Portugal não há estudos conclusivos sobre esta matéria

3 MIL
Entre duas mil e três mil mulheres prostituem-se nas ruas do Porto, revela um estudo de Outubro de 2005.

QUASE METADE SÃO CASADOS
Quase metade (40%) dos homens que recorrem ao sexo pago são casados. Entre as prostitutas, 70% são mães, indicam diversos estudos

ROTATIVIDADE É MUITO GRANDE
Nos bares de alterne a rotatividade das meninasé grande. É raro ficarem mais de três meses no mesmo sítio, para evita-rem cansar os clientes

APARTAMENTOS A CRESCER
A prostituição abrigada em apartamentos tem crescido porque é mais difícilas autoridades policiais fiscalizarem e devido ao anonimato que permite

IMIGRAÇÃO DIFICULTADA
Uma das queixas das brasileiras prende-se com dificuldadesque elas e os familiares enfrentam nos aeroportos portugueses e espanhóispara entrar na Europa

CONCORRÊNCIA ESPANHOLA
Desde o ano 2000 os bares portugueses na raia começaram a sofrer com a concorrência de Espanha, onde se instalaram alguns empresários nacionais

6500
Uma comunidade de 6500 mulheres trabalha na prostituição em Lisboa, revela um estudo do Instituto Europeu para a Prevenção e Controlo do Crime, datado de 2005.

FORÇADAS EM PORTUGAL
Um estudo indicativo do Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas de 2004 refere que cinco mil mulheres em Portugal são forçadas a se prostituir

REGULAMENTAÇÃO DAVA LEGALIZAÇÃO
A regulamentação da prostituição em Portugal poderia significar a regularização de dez mil mulheres imigrantes ilegais a trabalhar na indústria do sexo

CLIENTES PREFEREM AS DE FORA
As portuguesas (como Diana,na foto) estãoem minoria no alterne nas casas situadas na raia. Muitas optaram por imigrarpara Espanha, beneficiandodo anonimatoe porque os clientes preferem as estrangeira

PRESENÇA É MUITO VARIADA
Em regra, os bares têm entre dez a 15 alternadeiras. Sobretudo nas capitais do Litoral, o número pode rondar as vinte. No Alentejo costumam ser menos, muitas vezes quatro ou cinco.

ALGUNS DOS PREÇOS PRATICADOS NOS NIGTH CLUBS
CERVEJA: 5 euros
UÍSQUE: entre 7,5 euros e 12 euros / Ao balcão com menina: 15 euros / Em sala reservada com menina: 25 euros / Em sala privada com menina: entre 30 euros e 100 euros
CHAMPANHE ASTI GÂNCIA COM DIREITO A STRIPTEASE: 75 euros
OUTROS CHAMPANHES: até 250 euros
TABLE DANCE COM DUAS MÚSICAS: 40 euros
‘SOBE E DESDE' OU 'SAÍDA': Pode atingir os 250 euros
SEXO ORAL: 10 euros
VAGINAL OU ANAL: 30 euros
COM CASAIS: 60 euros

- As despedidas de solteiro e festas de aniversário têm os preços mais elevados.
- Nota: A maioria dos preços das bebidas corresponde a consumos feitos apenas pelas alternadeiras. As percentagens das bebidas que ficam para elas variam entre 50 e 70 por cento e sobem nas relações sexuais. Os valores são indicativos.

12 Abr 2008

 
 
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