
Re: Video sexual publicado na net leva ao suicídio de uma mulher
sexxx Escreveu:
Don Corleone.
Por isso é que eu tive o cuidado de escrever - COMPROVADAMENTE e sem sombra de dúvidas.
Eu sei bem como se comportam e a capacidade de julgamento das multidões enraivecidas. nunca há julgamentos justos junto das turbas.Todos nós sabemos o quão fácil pode ser para alguém com alguns conhecimentos informáticos, "hackear" informações privadas guardadas no mais secreto recanto dos nossos telemóveis e computadores.
Temos como exemplo, entre tantos outros, o famoso caso "the Fappening" onde dezenas, centenas de celebridades viram a sua intimidade, vertida nas redes sociais sem qualquer dificuldade.
Quanto á
justiça popular, por muito cega e condenável que seja, é muitas vezes a única forma de castigar "em tempo útil" quem se sente protegido pelo lento e brando sistema judicial português.Tive conhecimento há uns anos atrás de um caso onde
"alegadamente" um homem nos seus "entas" aliciou, seduziu com presentes e após muito assédio acabou por lograr os seus intentos sexuais junto de uma menor da zona. Denuncia feita junto da família, foi averiguada a veracidade dos factos relatados e confrontado pela família o acusado assumiu ser verdade mas com a defesa de que a menor teria consentido.Ora,
idiota ao ponto de achar que por ter sido consentido, achou também que não teria mal nenhum cometer um crimezito de pedofilia... e ficou por provar se o crime de violação também coisa pouca.Relata a história que dias mais tarde
o homem deu entrada nas urgências do Hospital da Zona com um objecto grande parcialmente enfiado no traseiro por desconhecidos... diz que lhe estava a doer
...
Lá está a justiça popular a funcionar parcialmente... que se saiba não voltou a importunar menores ou outro tipo de jovens em situação idêntica.Lamentavelmente,
tempos mais tarde acabou por cometer um homicídio e foi devidamente condenado a prisão.
A Justiça popular falhou.... os desconhecidos deviam ter enfiado o objecto mais fundo.Por outro lado, voltando ao tema em questão, tenho comigo a crença de que
a "humilhação" pela qual a mulher passou, não é... não pode, não deveria ser suficiente para originar um suicídio deixando para trás uma família com filhos incluídos em sofrimento.
Acredito que tanto
quem comete suicídio, como quem comete outro tipo de crimes causados por distúrbios mentais, já traz consigo qualquer desordem adormecida do foro psicológico, que depois é despoletada por uma qualquer situação de stress grave como é o caso.
Caríssimo, acho a sua argumentação muito confusa e assustadora: começa por reconhecer a cegueira da justiça popular, para depois elogiá-la e
até sorrir de monstruosidades cometidas em nome da justiça.
A justiça popular funciona à base de sangue quente, afirmações inflamadas e intempestivas, e conclusões apressadas em ambientes de violência latente ou epidémica.
Quanto a julgar apressadamente o envolvimento com menores, conviria saber melhor os detalhes da questão... a violação e o abuso de menores devem ser punidos com rigor e de forma exemplar, mas muitas vezes as coisas não acontecem como as versões que correm de boca em boca ou em comunicação social sensacionalista. E esse é o perigo. Fazem-se julgamentos apressados sem factos que os comprovem, e cometem-se injustiças e linchamentos.
Quem quiser leia este artigo, de há cinco anos, sobre os linchamentos no Brasil. De lá para cá mais se banalizaram, e isso ajudou à erosão acelerada da sociedade brasileira actual.
https://brasil.elpais.com/brasil/2014/0 ... 14132.htmlLembro de um caso, logo a seguir às primeiras acusações do processo Casa Pia, em que uma mulher, com a confirmação da filha de 11 anos, acusou o marido de pedofilia. O homem ficou preso cerca de um ano, até , na sequência do inquérito e das contradições dos testemunhos de mãe e filha, ser libertado, com a vida familiar, profissional, social e pessoal completamente desfeita, sem ter feito nada do que o acusavam. Se tivesse havido justiça popular não é difícil de imaginar o que aconteceria.
Freddo Escreveu:
A justiça popular é daquelas coisas que parecem que fazem sentido, mas depois quando postas na prática, levam a abusos e violência, envolvendo até pessoas inocentes. Por isso é que as nossas sociedades evoluíram para estados de direito. Isso não quer dizer
que se alguém fizesse mal a minha filha, que não haveria de actuar, mas ao menos aceitaria que estaria a infringir a Lei e teria de sofrer as consequencias disso se fosse apanhado.
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Aqui já se trata de
justiça pessoal. Tenho uma visão semelhante à que está expressa, quando especulo sobre o que eu faria em determinadas situações.
Freddo Escreveu:
Pessoalmente, não vejo que o problema seja as redes sociais. Não é um problema novo. É a velha mentalidade que uma mulher não pode ser um ser com necessidades sexuais. Mais uma vez, isso aconteceu antes do seu casamento. Não entendo pois porque é que o marido ficou ansioso com a notícia e a mulher teve de lhe pedir desculpas. Pelo que percebi isso aconteceu perto de Madrid e não no Paquistão.
Eu creio que é um problema novo, pela forma vertiginosa e anónima com o filme se espalhou (e um filme tem um efeito muito diferente de um boato), e pelas circunstâncias em que ocorreu.
A importância que tem, para o resto do mundo, é que milhões de pessoas fizeram algo semelhante: produziram e enviaram vídeos de que podem sentir imensa vergonha se caírem no domínio público, e ver a paz das suas vidas comprometida dessa forma. E ninguém pode avaliar o dano que isso possa fazer a outra pessoa. Podemos não entender o drama, não podemos desvalorizar o problema.
Em Madrid os colegas juntaram-se numa vigília para homenagear a colega e lamentar juntos o sucedido. Tenho pensado que, possivelmente, se pudessem ter adivinhado o que estava para acontecer, algumas colegas se disporiam a fazer e publicar elas mesmas vídeos sensuais, como forma de reagir, como comunidade, diluindo e anulando a humilhação pessoal que a colega estava a passar.
Os subúrbios de Madrid são em parte herdeiros da mentalidade católica conservadora e austera das gerações anteriores, tal como os de Lisboa. Nem todos têm evoluído de igual forma, e há muito preconceito e recalque na educação das pessoas, não tenhamos ilusões.
Mas se fosse no Paquistão, provavelmente a própria família teria linchado a mulher. Lá a justiça popular em questões como moralidade funciona de forma muito efectiva. É por isso que certas considerações me assustam. A evolução das mentalidades não caminha sempre no mesmo sentido. E, em certos aspectos, fenómenos como os que têm surgido no Whatsapp e etc. parecem querer levar-nos de volta para a Idade Média, só que mais sofisticada.