Haverá menos gente nos restaurantes mas "às moscas" não estão de certeza... é com esse tipo de bocas que o alarme
injustificado alastra.
PARA ACABAR DE VEZ COM O VÍRUS DA CORONAHISTERIA (Jorge Buescu)https://www.tromba*book.com/10000111036533 ... 52219/?d=n(Jorge Buescu é licenciado em Física pela Faculdade de Ciências de Lisboa e doutorou-se em Matemática na Universidade de Warwick. Foi professor do Departamento de Matemática do Instituto Superior Técnico durante duas décadas, sendo agora professor associado com agregação no Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. É autor de dezenas de artigos científicos e de mais de uma centena de artigos pedagógicos e de divulgação, nas áreas da matemática, física e engenharia. O Mistério do Bilhete de Identidade e Outras Histórias, Matemática em Portugal, Casamentos e Outros Desencontros, O Fim do Mundo está Próximo? ou Primos Gémeos, Triângulos Curvos e Outras Histórias de Matemática são algumas das suas obras para o grande público. Jorge Buescu foi nomeado Membro Correspondente da Ordem dos Engenheiros e é vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática. Em 2001 foi galardoado com o Prémio Rómulo de Carvalho de Investigação e Divulgação Científica) https://www.cienciaviva.pt/livrosqueque ... ugestao=39 Como o link do Facecoiso não abre, copio o texto para aqui:
Evitei até hoje pronunciar-me sobre este assunto; mas chegados à situação actual, acho que é uma questão de serviço cívico enquanto matemático.
O gráfico acima, que consta de um site de Johns Hopkins que acompanha a situação do coronavirus em tempo real (1) e que recomendo a todos que descarreguem para o telemóvel, compara o número de infecções por coronavírus na China (laranja) e resto do Mundo (amarelo) com os casos de recuperação. À data de hoje (1/3/2020) há 42.600 recuperados, de um total de 87.000 casos identificados. Devemos ficar preocupados? Não, pelo contrário. Devemos ficar muito tranquilizados. Note-se que a curva dos recuperados acompanha perfeitamente a das infecções, com um tempo de latência de 3-4 semanas. O número de recuperados hoje, 1/3/2020, é igual ao total de infectados em todo o Mundo em 10/2/2020. A taxa de recuperação para os casos de infecção registados em Fevereiro é superior a 99%.
Para ganhar sensibilidade para a evolução da doença, transcrevo os números em bruto. I é o número de infectados, R de recuperados.
22 Jan: I = 547, R=28
29 Jan: I = 7.700, R=133
5 Fev: I= 20.000, R= 1.100
12 Fev: I=50.200, R= 5.200
19 Fev: I=75.700, R= 16.100
26 Fev: 81.000, R= 30.400
1 Mar (hoje): I=87.000, R=42.600
Ou seja, em Janeiro quase não havia recuperados; hoje mais de metade do total de infectados já recuperou. Num mês, o número de recuperados cresceu por um factor de 300. Curiosamente, nunca vi estes números referidos na imprensa, mais preocupada com visões do apocalipse.
Estamos pois a braços de uma virose essencialmente inócua (mais pormenores abaixo), com um período de recuperação de 3-4 semanas, após o qual, de acordo com os melhores números actuais, 99,3% dos infectados recuperam sem complicações.
Do ponto de vista da saúde pública, a questão colocada pelo nCOVID-19 é apenas a sua elevadíssima taxa de contágio. A OMS estima um valor de R_0, grandeza que nos modelos matemáticos SIR (Susceptíveis-Infectados-Recuperados) determina a taxa de propagação exponencial, de 2,3. Para comparação, a gripe sazonal tem R_0=1.3, propagando-se de forma muito mais lenta. Para saber mais sobre o que isto quer dizer e sobre os modelos matemáticos de epidemiologia veja-se por exemplo (2) ou (3).
Por outro lado, os números mostram que se trata de uma virose essencialmente inócua: o período de recuperação é de 3-4 semanas, após o qual 99,3% dos infectados estão recuperados. A estimativa actual da OMS para a taxa de mortalidade para casos surgidos depois de 1 de Fevereiro, portanto depois do surto inicial, é actualmente de 0,7% (4) Como termo de comparação, o vírus Ébola tem uma taxa de mortalidade próxima dos 50%. A da gripe é 0,1%. Esse factor de 7 pode parecer preocupante; mas temos de colocar as coisas em perspectiva. no outbreak inicial, ainda em Dezembro em Wuhan, a taxa de mortalidade inicial parecia ser 17,6% (o que se ficou a saber dever-se ao colapso do sistema hospitalar da região), depois foi reestimada para 5%, depois no fim de Janeiro 2%. Agora a taxa global está em 0.7% - 25 vezes menor do que o inicialmente temido. E os dados mostram inequivocamente que, para casos novos, esta estimativa está a baixar a uma taxa exponencial constante, devendo estabilizar num valor muito mais baixo. Veja-se o gráfico 2, sobre os casos clinicamente encerrados. O encerramento por morte está a laranja, por recuperação a verde. A 2 de Fevereiro, 42% dos casos encerrados eram por morte e 58% por recuperação. A 1 de Março, 6% são por morte e 94% por recuperação (se os valores ainda parecem altos, recorde que eles incorporam a mortalidade anormal do surto inicial de Wuhan, que desequilibram as contas). Este processo está em plena progressão e os dados sugerem que, dentro de duas a quatro semanas -- digamos, em Abril -- a taxa de mortalidade estabilizará num valor próximo do da gripe sazonal.
A virose em si não é complicada; um dos maiores virologistas espanhóis e Presidente da Sociedade Espanhola de Virologia, José Antonio Lopez Guerrero, descreve-o como “mais do que um catarro, menos do que uma gripe” (5). 80% dos casos são assintomáticos ou têm sintomas muito leves. Apenas em 5% dos casos existem complicações graves, na sua grande maioria em grupos de risco: por exemplo, pessoas com bronquites crónicas, DPOC ou sistema imunitário estruturalmente enfraquecido como doentes oncológicos. São essas pessoas que podem estar em perigo – tal como estariam, com o mesmo nível de risco, se contraíssem uma gripe comum.
O coronavírus já está em Portugal, isso é uma inevitabilidade cósmica. Isso é preocupante? Não particularmente, a menos que se pertença ou se esteja em contacto próximo com um grupo de risco. Como descrevi acima, ele é menos perigoso para a população saudável do que uma gripe. Mas, tal como alguém com uma gripe toma precauções para não a transmitir, também aqui essas precauções devem ser tomadas, de forma mais drástica divido à altíssima taxa de contágio.
Se o coronavírus servir para implantar socialmente comportamentos como lavar mãos frequentemente ou não espirrar para o ar, tanto melhor. Não devemos ir visitar aquela tia idosa ao lar se estivermos afectados, como não o fazemos quando estamos com gripe. Podemos ter de cancelar algumas viagens de avião, como aconteceu comigo, mas vamos viver a vida normalmente. De resto, não há qualquer motivo para pânico ou sentimentos de apocalipse, apesar da desinformação constante e do alarmismo mediático a que assistimos diariamente – esse sim, o mais perigoso vírus de toda esta história.
(1)
https://gisanddata.maps.arcgis.com/…/opsdashboa…/index.html…
(2)
http://maddmaths.simai.eu/divulgazi…/…/epidemie-matematica/…
(3)
https://triplebyte.com/blog/modeling-in ... s-diseases.
(4)
https://www.who.int/…/who-china-joint-mission-on-covid-19-f…
(5)
https://elcultural.com/covid-19-mas-que ... o-menos-qu…
PS - agradeço à Raquel Queiroz, ao António Antonio Araujo e a outros leitores terem apontado um erro no post original, relativo à mortalidade da gripe sazonal.