
Notas Papais por um Herege

Na semana passada tivemos efemérdide nacional com essa singular celebridade que é simultaneamente Chefe de Estado e Grande Guru Espiritual.
No seu voo especial anti-cinza vulcânica, algures a uma altitude a que sempre quis associar a sua Santa Igreja, o Sumo Bento sentiu-se na obrigação excepcionalmente constrangedora de assumir uma certa indigestão. Talvez porque o resto da Humanidade já estivesse a par da cena e um sapo desta envergadura não se esconde facilmente. Afinal o troféu do maior comedor de criancinhas não fica nas mãos dos comunas, mas sim dos seus arqui-inimigos Católicos.
Será que Sua Santidade, que pernoitou junto à Casa de GPs mais mal afamada de Lisboa (S. Sebastião), se importa mesmo com as
rabichices dos colegas ? Afinal, que santo não teve as suas fraquezas? Desde o medievo Nome da Rosa até ao insular emigrado
Padre Frederico , a rabichice sempre habitou os templos da Cruz…
Veio à procura da Fátima. Até à hora de desfecho do presente poste, não há conhecimento de qualquer explicação ou pedido de desculpas das rabichices por parte da Nossa Senhora, que até
nem fala tão mal quanto isso a língua portuguesa.
Imagino o susto do Sumo Padre com a aparição de alguns Gargantas Fundas que se desbroncaram e oralizaram a sério. As cenas podiam ter decorrido numa serrania alcantilada de Trás-os-Montes. As ovelhinhas enrabadas pelos pastores nos mais longínquos pastos europeus e norte-americanos. É no que dá a obediência mansa à corja de cardeais sem mulher para afogarem o ganso. Nem esta paneleiragem de alto calibre foi suficiente para acordar o mau feitio do
Manda-Chuva com as suas iras bíblicas. Aposto que Ele adormeceu com as barbas - consta que longuíssimas, caprichosíssimas e inescrutabilíssimas - de molho? Deve ter posto o telemóvel no silêncio. Travesso como é, Ele é capaz de tudo. Isto, admitindo que exista.
Venha de lá essa ameaça de excomunhão.
O seu delegado de propaganda, o Papa, é Pop. Qual super-estrela com o seu helicóptero e pazadas de agentes da autoridade a emprestarem um certo charme de vedeta às suas deslocações nas quais uma multidão de anões se acotovela e se gasta em repetidas venerações, joelhos esfolados e desmaios beatos, contagiados pela histeria colectiva. Apesar da sua tromba de arenque fumado, diga o que disser Sua Santidade, o Ámen em co(i)ro está garantido. Digam o que disserem os fieis, os discursos previamente redigidos garantem resposta segura e conveniente.
Previsivelmente, esta descarada bajulação mútua (eu aplaudo e tu abençoas-me) atinge o clímax nas grandiosas encenações teatrais em palcos estratégicos. No santuário evocando 3 pastorinhos que partilharam psicotrópicos numa tarde chata de Maio, a cerimónia de grande aparato foi o êxtase em matéria de delírio adulador, de rasteirice, de ostentação de servilismo. Este formidável Rock in Fátima meteu no bolso o Parque da Boavista do sacerdote musical Roberto Medina. Ao som das melhores melodias cristãs, registou-se oficialmente o recorde mundial de orgasmos. Meio milhão ejaculou enquanto ostentava as tishârtes oficiais e gesticulava as Virgens de plástico.
Eis o milagre da coisa: a Igreja toda-poderosa promove, com a Fé dos fieis, os seus próprios interesses. De caminho, umas escorregadelas de sabonetes e uns putos acordados com nabos na goela não deveriam perturbar.
A receita da Igreja para o momento brilhante que atravessamos: casamento só entre pila e xoxota, obrigam-se todas as fêmeas a parirem, ainda que contrariadas e mesmo se o fruto parido assumir a existência de um vegetal a vida inteira. É a defesa de tal Vida que os pobres infiéis não atingem…
O Papa é um intelectual, mas parece que também é porreiro (até a Múmia de Boliqueime se deslumbrou quando Sua Santidade pronunciou o nome dos seus netinhos no Palácio de Belém). Celebremos. Nada acrescenta ao meu respeito pelo intelectual; e nada acrescenta à posição carismática em que ele foi investido. À luz da imensa merda que atingiu a ventoínha só ficaria bem ao senhor Chefe alemão servir-se dessa instância espiritual e secular, não apenas estrita medida dos seus próprios interesses, mas na defesa de todos aqueles enroscados na peidola contra vontade.
A especial gravidade reside no facto de haver alguns padres que caíram na tentação da carne, a tal que é sórdida e abjecta. À cumplicidade do silêncio (como é que, a partir daí, se poderá voltar a admitir qualquer censura de uma ovelha por um pastor?) responde a Santa Madre Igreja às ovelhas cada vez menos silenciosas com argumentos de "respeitinho" e de paranóia de "perseguição laica" que redundariam, se aceites pela populaça ovina, na impunidade dos criminosos.
Claro que sobranceria e negação podem unir-se para dizer que a Igreja a tudo resistirá. É tão bizarro como o seria se um paciente, verificando que lhe falam de uma doença que não o matará, recusasse o tratamento e passasse a contra-atacar quem o alertou. Resta o paciente, a quem se promete um futuro indefinido.
Um apocalipse moral que ultrapassa a imaginação dos próprios inimigos da Igreja, porque vem de dentro, vem das próprias entranhas dos Cardeais, dos príncipes da Igreja. Devia temer-se a Besta: antecipou-se-lhe o Anticristo. O Dan Brown deve andar a anotar tudo para mais um dos seus livros…
Post-Mortem informacionalO
Relatório mais divulgado e comentado sobre a Igreja Católica norte-americana é eloquente e dispensa outros comentários:
100% dos padres católicos são do sexo masculino, 81% das suas vítimas são do mesmo sexo.