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DANTE
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- Voyeur
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 Boate Help - Paloma
Boate Help - Avenida Atlântica, 3432 - Copacabana - Rio de Janeiro
Domingo à noite, final de setembro, eu em casa oprimido após a lobotomia executada pelos programas de auditório da Televisão.
Procuro meus óculos, vou ler um livro que é mais produtivo. Abro o armário e me assusto com minha cara amarrotada e meu corpo dentro de um pijama velho que o espelho reflete sem piedade... Tenho que reagir!
Quem casa com a noite não se separa mais, vive apenas das amantes casuais que ela mesma nos oferece e nos permite.
Tomo meu banho, visto meu uniforme de morcego, desperto o Sucatão e partimos os dois, motores roncando, rumo à Cidadela do Pecado, Copacabana, Terra das Amazonas.
Estaciono na Xavier da Silveira, me encaminho para o meu boteco predileto, peço meu tradicional chope e fico vendo a vida passar por alguns instantes. É o aquecimento!...
Beber alguns chopes na noite é como receber uma transfusão de sangue, o espírito se anima, as ruas se avivam e a alegria se aproxima mais dos nossos olhos.
Terminado esse ritual, caminho sereno e renovado ao encontro do grande Monumento. Sim, a Help é um monumento. A Help deveria ser tombada, é um patrimônio, faz parte da história da cidade. É um ponto turístico com a mesma dimensão do Pão de Açúcar e do Corcovado. A Help também nos recebe de braços abertos, como uma grande mãe generosa.
Compro o ingresso antes da meia-noite para não perder o desconto, entro e me deparo com um inusitado negão com toda pinta de viado fazendo revista na entrada (escrevo viado seguindo o conhecido conselho do Mestre Millôr que nos diz que quem escreve veado é viado). Foi desagradável ser apalpado por uma bichinha logo no início da festa.
Superado o constrangimento de ébano, consigo entrar ileso na boate. Já estava lotando quando cheguei.
Vou ao bar e chamo pela minha habitual cerveja, a transfusão tem que se manter contínua e não pode ser interrompida até o final da noite.
Percorro o lugar, faço charme e pose de quem está cheio do dinheiro e disposto a tudo. Quem vai acreditar? É um trabalho esmerado de um ator amador, solteiro e quarentão. Às vezes funciona, na maioria das vezes não dá em nada, mas vale pelo treino e aperfeiçoamento da prática de canastrão.
Paro num ponto estratégico de onde posso observar com conforto toda a pista de dança. Foi quando vi aquele ponto de luz num vestido vaporoso, cabelos negros e compridos, olhos azuis, lábios carnudos, pele clara e 1.70m de mulher. Dançava de maneira sensual acompanhada de uma amiga. Meus olhos congelaram e ficaram fixados na garota.
A Beleza tinha saído para dançar naquela noite e eu a encontrei.
Fiz força para me libertar daquele feitiço momentâneo que me atingiu e fui ao bar buscar uma bebida mais forte que me liberasse de qualquer vestígio de timidez.
Meu uniforme pra noite consiste em roupas de tom escuro, seguindo uma preferência pessoal. Por causa disso, tive que aturar a graça de um baixinho alegre que estava ao meu lado enquanto eu esperava a minha vodka.
- Porra, não sabia que o Zorro também freqüentava a Help...he, he, he... – o toco de gente repetiu a piada umas três vezes.
Como eu já me encontrava naquele estado de felicidade etílica, esclareci ao pé do ouvido do anão que o Zorro estava ali para afiar a espada. O pequenino gargalhou, me deu um tapinha no ombro e desapareceu na turba.
Voltei pra beira da pista e decidi me aproximar daquela beldade que havia me encantado.
Paloma... Foi esse o nome que ouvi de um sorriso doce quando me apresentei dizendo que eu não poderia sair da Help sem saber como ela se chamava.
Paloma... Ficou mais linda de perto, os olhos azuis faiscavam, a boca hipnotizava, quando ela mexia nos cabelos pingavam gotas de sensualidade aos meus pés.
Que mulher! Tem 21 anos e já é uma sedutora poderosa.
Vi que ela estava com uma dessas garrafinhas pequenas de champanhe na mão. Perguntei se eu poderia pagar outra dose e a resposta foi um óbvio sim.
Inacreditavelmente, começamos a descobrir uma misteriosa afinidade, ela estava alta e eu começava a alcançar níveis estratosféricos. Não demorou muito e nos beijamos, ela me abraçava forte e eu tentando acreditar que tinha me dado bem.
De repente, ela faz um convite inesperado.
- Queria sair daqui, vamos pra Bunker? Você conhece?
Ela estava me convidando para ir a minha segunda casa em Copacabana.
Foi o tempo de uma piscada e eu estava rompendo os corredores da Bunker com a própria Vênus encarnada em Copa.
Fazia alguns bons meses que eu não visitava a Bunker e fiquei decepcionado com a decadência que presenciei. O chão era lama pura, uma água preta, rala e repugnante cobria todo o piso; o calor era insuportável; casa lotada e parecia que o ar-condicionado estava desligado. O lugar virou o Portal do Inferno!
A Paloma não resistiu por muito tempo e me perguntou se eu aceitaria retornar à Help. Foi outra piscada e estávamos na Help novamente.
Dançamos e namoramos pelo resto da madrugada, quando saímos da boate o horizonte começava a se colorir de um vermelho alaranjado, outro dia estava nascendo.
Acordamos juntos numa suíte do Motel Alameda, na Glória. Não houve cachê, presente ou algo parecido.
Foi um encontro perfeito que aconteceu numa noite de domingo entre um solitário e uma menina carente.
Foi a amante que a Noite me concedeu naquele dia, foram algumas horas de um Amor furtivo que nunca mais esquecerei.
DANTE
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