GOLD, OU 33 ANOS DEPOIS
(com bibliografia, banda sonora, iconografia cinematográfica e dedicatória no final)
A primeira vez, a pagar, foi assim. Lisboa, fim de tarde do Verão Quente de 1975, Vasco Gonçalves, dito "Vasco Louco" no poder, PREC em curso, país em chamas, capital em brasa. Ela é alta, ruiva, elegante, bonita, tem vinte e tal anos e está encostada, com umas amigas, à parede de um prédio da Casal Ribeiro que faz esquina com a Defensores de Chaves, onde há uma pensão, nem por acaso chamada Pemba, um "i" pelo "e" e batia a bota com a perdigota.
Ela é a melhor do grupo e eu, 17 anos, seiva a ferver vulcanicamente no metabolismo, escolhi-a para ser a minha primeira vez com dinheiro envolvido. Encho-me de coragem, faço das tripas coração e avanço. Chego à fala com ela. É simpática. Está curiosa: "Não és muito novinho para vir às meninas? Não tens namorada?". Respondo com uma muda negativa de cabeça à primeira pergunta e de viva voz à segunda: "Tenho sim, já tive algumas, já fodi bastante". Ela lança-me um olhar divertido e eu disparo-lhe: "Quero estrear-me a pagar contigo". Ela ri-se, olha para as amigas e diz alto: "Uma estreia, ora essa, que honra. Não seja por isso, vamos lá!". Sinto as faces a arder e quando começo a subir as escadas com ela ao lado, reparo que não perguntei o preço. Nem ela mo disse.
Na pensão, pago o quarto - 100 escudos - e pago-lhe a ela - 2500 escudos ("Desculpa, filho, mas não há descontos nem para estreias"). Estamos a despir-nos e pergunto-lhe o nome. "Paula", diz. "Paula nada, isso é nome artístico", respigo. "Olha, olha, ele sabe umas coisas. Regina, pronto. Ficas a saber o meu nome, é o teu presente de estreia com guito". Nua, ela corresponde ao que parecia vestida.
Enrolamo-nos um no outro. Ela não despacha, é afável, divertida, até. "Ena, ena, o menino já faz umas coisas... dá cá esse tarolo à Regina, dá!". Dou e a Regina diverte-se e leva-me ao rubro. A certa altura, ou tem um orgasmo ou finge ter um, não importa, é convincente para o rapaz aluado de 17 anos que eu sou, e que se está a sentir um príncipe nas mãos sabidas dela. E tudo se consuma em mais tempo do que eu poderia pensar.
Conversamos um bocadinho, fumamos, ela entreabre-me uma fresta para a sua vida, achou-me graça. Vestimo-nos, saímos juntos. Cá fora, já está escuro, andam sombras a rondar as amigas da Regina. Ela dá-me dois beijos na cara, despede-se e diz-me: "Volta cá ver-me, já não te vou é estrear com guito!". Rio-me, digo adeus e rumo ao Saldanha.
Vou de férias, e depois vou fazer o InterRail. Quando volto à esquina em fins de Setembro, o Outono já no ar, a Regina já lá não está. "Parece que saiu da vida", diz-me uma amiga, a loira oxigenada de cara cansada. Nunca mais a vi. Muitos anos depois, o prédio foi demolido e a Pensão Pemba ficou só uma recordação na memória dos putanheiros. Registei a minha meia hora com a Regina num caderno de capa castanha com anotações íntimas, mais tarde perdido num frenesim de limpezas para mudança de quarto em casa dos meus pais. Continuei a ir às meninas, paralelamente à minha vida emocional e sexual "institucional".
Registei-me no
após o "grande apagão", no dia 7 de Janeiro de 2008, e comecei a postar quase imediatamente. Acho que um TD de rua logo na primeira vez. Esta semana, na segunda-feira de manhã, tive um encontro docemente agitado com a Joana Cristina e a Filipa na Avenida de Roma. É o meu TD mais recente, está feito no respectivo subtópico de Lisboa-Clubes e Clínicas de Massagens.Entre aquela tarde de Verão de 1975 e hoje, dia do meu post número 1000, passaram 33 anos. Foi-se um milénio e veio um novo século. Portugal já teve não sei quantos governos, o totalitarismo comunista desabou, a SIDA aterrorizou o planeta, houve várias guerras, deu-se o horror do 11 de Setembro, os EUA entraram em declínio imperial, a China e a Índia erguem-se como novas potências económicas, tecnológicas e espaciais, inventou-se a Internet e apareceu o telemóvel. Continuo aqui. A pensar. A sentir. A ir às meninas. A pinar. A postar no
Bibliografia escolhida:
Fanny Hil, John Cleland; As Meninas de Paris, Anónimo; A Profissão da Senhora Warren, George Bernard Shaw; Bela de Dia, Joseph Kessel; Droga e Prostituição em Lisboa, João Alves da Costa; La Dérobade, Jeanne Cordelier; Call Me Madam, Xaviera Hollander.
Banda sonora:
http://www.youtube.com/watch?v=MGQYI_TL8VQ
http://www.youtube.com/watch?v=PotNv1e2a-I
Top 3 da iconografia cinematográfica:
Catherine Deneuve, Bela de Dia: http://www.youtube.com/watch?v=cDgyynHwctQ
Theresa Russell, Whore:http://www.youtube.com/watch?v=CBkdSemm1H8
Emmanuelle Béart, Nathalie X:http://www.youtube.com/watch?v=o_fWYgv133U
Este postal número 1000 é dedicado à Regina, onde quer que ela esteja, pela "estreia com guito"; e à Joaninha, por tudo, e por aquele sorriso da primeira vez que me abriu a porta.
Não só pelo número em si, mas sobretudo pela qualidade de grande parte dos postais, de que este é mais um exemplo evidente. 
![[bigsmile]](./images/smilies/snork_lach.gif "hehehe")
Q estejas cá mais 33 anos... smp a postar TD's tão bons e originais!!! 
Beijinhooosss*
...Disse a Matilde que 33 anos não vão "amolecer" esse "vigor" que há em ti e acrescento eu que 330 não chegavam para "transpirares" esse "suor" de emoções todo....
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