Dois amigos meus iam levar um amigo deles a ver o Sporting. São daqueles sportinguistas meio atípicos... não são completamente doentes, mas são sócios e adeptos fieis e assíduos, são inteligentes e relativamente factuais a observar o jogo, ambos provenientes de famílias relativamente abastadas e com tendências de esquerda. São sportinguistas por influencia dos pais, mas sabem separar o trigo do joio. E ambos parecem ter a ideia que serem sportinguistas é uma espécie de karma, uma cruz que têm de carregar ao longo da vida, para demonstrarem que têm honra, ou coragem, ou para fortalecer o espírito, ou uma coisa qualquer assim do género. Gostam de algumas coisas no Bruno de Carvalho, da mesma forma que não gostam de muitas.
Bem... o tal amigo afinal, à ultima da hora, não conseguia ir. Então convidaram-me a mim. Não é a primeira vez que lá vou com eles. Mas já não ia há uns tempos O argumento deles, desta vez, é que era a minha oportunidade de ver bom futebol. E lá fui eu...
Aquelas bancadas são um bocadinho para o... bem... hum... como devo dizer isto?... ... ... histéricas.
Já eram... mas estão piores.
Tanto aplaudem desalmadamente coisas sem importância nenhuma, como se metem a assobiar por razões até difíceis de descortinar.
Ouvi um gajo a gritar para não meterem em campo o lampião Markovic. Como não tem jogado bem parece que agora é lampião. Se passar a jogar bem deve passar a ser leão num instante.
Ficam extasiados de uma forma surreal quando cantam a musica do Sinatra. Acho que muitos pensam que muitas pessoas juntas a cantar uma musica, transforma automaticamente o Sporting no melhor clube do mundo.
Há lá um lance que a bola bate claramente no peito dum jogador do Tondela, e o estádio gritou penalty quase em uníssono. Queriam que fosse penalty à força. Só porque dava jeito, tinha de ser penalty, e não ter sido foi considerado uma roubalheira por várias pessoas ao meu redor.
A melhor medida que o Sporting podia tomar seria oferecer calmantes aos adeptos à entrada.
Muitos parecem aqueles putos a fazerem cenas de choradeira, para ver se os pais lhe compram o rebuçado, o chocolate ou o brinquedo que querem à força.
Há uma grande diferença entre fervor e paixão por uma equipa, e histerismo potenciado por excesso de nervosismo.
Em ambos os casos há gritos, berros, aplausos e assobios, mas é palpável a diferença na forma como eles acontecem. E isso até transparece na forma como a equipa joga. Jogar com perseverança, garra e coragem, e jogar de forma histérica e nervosa, pode levar em ambos os casos a grandes correrias, mas o resultado pode ser substancialmente diferente.
Alguns jogadores podem não ser grande coisa, o treinador pode falhar nalgumas escolhas, o presidente e o departamento de comunicação pode meter os pés pelas mãos... mas tenho poucas duvidas que um dos problemas do Sporting é... estar cheio de lagartos típicos. Aquele sentimento generalizado de que o mundo está todo contra eles não é benéfico para a equipa. Em vez de focarem nos problemas internos, focam nas desculpas externas. E depois todo o clube vai de encontro a estas ideias. Os jogadores, o treinador, o presidente... todos querem agradar aos seus adeptos, pelas mais diversas razões, e se é assim que estes pensam, é normal que eles se adaptem.
No final do jogo sugeri aos meus amigos que me pagassem o jantar num sítio onde pudéssemos ver o resto do jogo do Porto... é que eles tinham-me prometido que hoje ia ver bom futebol, e quando saímos do estádio eu ainda não tinha visto nenhum!
Eles concordaram, e aceitaram!
PS: Outro aspecto curioso é que neste momento o jogador fetiche deles parece ser o Adrien. O A-dri-en!?! Como antigamente chegaram a ser o Rinaudo, o Acosta ou o Iordanov. No Benfica fazem-se vénias a jogadores como Jonas, Rui Costa, Gaitan ou Aimar. Eles... é a jogadores como o Adrien!
Acho que também isto ajuda a explicar algumas coisas.