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Um segmento no qual o regulador continua a encontrar práticas de venda duvidosas, como a comercialização de produtos financeiros complexos a investidores com baixa ou nenhuma escolaridade e de produtos com maturidades longas a investidores idosos.
Não sei se este tópico está com muita audiência, mas convém fazer aqui um ponto de situação com a informação veiculada neste relatório, que me parece está a ser orientada para não-questões.
Alguém que me esclareça onde se depreende que há "largos milhares de portugueses a investir em produtos complexos"?
Vamos a ver se conseguimos manter um nível superior ao dos jornalistas.
Até porque há aqui inteligência qb com discernimento para tal.
O enfoque da notícia não é o valor subscrito de PFC nem o número de subscritores, mas sim,
quem o subscreve e do seu background para entender o que está a subscrever, e também sobre as
reclamações associadas a estes produtos.
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Sobre
quem subscreve e do seu background para entender o que está a subscrever, a notícia é bastante clara: são idosos ou indiviudos de baixa escolaridade. Mas já agora, será só particulares? Não estará a entrar aqui as subscrições feitas por PMEs?
Se o investidor tipo de PFC é de baixa ou nenhuma escolaridade, das duas tês:
i) ou é um dealer que vive da droga e a quem o risco desta brincadeira até é engraçado, ou
ii) é o típico empresário / proprietário (arriscava-me também a dizer de origem africana / angolana como alguns que andam por aí cheios de pasta) e que está aconselhado para o fazer e/ou tem capacidade de incorporar os riscos no seu portfolio, ou
iii) é um John Doe, em que o mais provável é ter sido amigosamente enrabado por um qualquer bancário com objetivos para atingir no final do mês.
Nesta informação, falta também saber QUANTOS individuos (e/ou entidades corporativas) subscreveram estes 1.4 mM€. Se 10 individuos que subscreveram 1 mM€ e 500 que subscreveram os outros 400 m€, presumindo uma abordagem profissional na compra, ou se cada um de nós comprou a média de 140€ de PFC em 2012. Pelos menos 8 pessoas, onde eu me incluo, não compraram PFC em 2012.
Esta informação sobre o montante de PFC comercializados em 2012, veiculada nesta notícia, não permite qualquer conclusão como aquelas que estão aqui a sugerir, e que conclui por associar muita bondade e espirito natalício aos banqueiros e financeiros por esse mundo fora, quando é sobejamente conhecido que todos esses gajos querem é chular do bolso de (quase) nós todos. Permite somente saber que, quem compra PFC é tendencialmente / maioritariamente idoso ou apresentar naixo nivel educacional. E quem vende é... ???
Produto financeiro complexo, é isso mesmo: complexo. Com o devido esclarecimento sobre como funciona um PFC, nem um idoso, nem alguém com baixa qualificação o subcreveria. O 1º pq priveligia a segurança, o 2º porque não irá nunca entender.
Se não acreditam nesta premissa, coloquem as coisas em perspectiva: façam um exercício real com os vossos familiares mais idosos, e assim que voces falarem sobre risco de capital num investimento de 50 milenas - que não oferece garantias de que receba o capital investido - poderão ver que as pessoas comuns rapidamente tornam-se extremamente hostis a esse palavreado ou sugestão. Claro que falar-lhes em warrants, swaps, ou produtos estruturados, é como ter um burro a olhar para um palácio.
Portanto, não me fodam com conversa barata de que os banqueiros são fofinhos. Se um bancário virar-se para um aforrador com o 7º ano ou com 50+ anos, e disser preto no branco "Ao subscrever estas 50.000 milenas das suas poupanças neste produto, pode receber entre NADA e 200.000 milenas daqui a 10 anos"... 99,9% vai mandar o produto à merda.
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Sobre as
reclamações associadas a estes produtos, a notícia também é clara: os produtos financeiros complexos foram, pela primeira vez em 2012, os mais visados nas reclamações. Ora, quem faz as reclamações, não são os bancos, mas sim os subscritores. E se reclamam, é porque, de alguma forma, ou cairam no conto do vigário (tipico idoso) ou não sabiam o que estavam a subscrever (tipico tuga com baixo nível de escolaridade).
Portanto, que o povo é pobre e indefeso, não é. Contudo, é ignorante, o que ainda é pior. É muito fácil brincar com a ignorância dos outros.
Segundo, que os financeiros e banqueiros são malandos, isso será até um elogio:
A CMVM analisou 220 peças de publicidade relativas a produtos do setor segurador e bancário (categorizados como produtos financeiros complexos). Foi necessário solicitar alterações em 133 dessas peças, o que correspondeu a 60% dos casos.Muito mais se pode ler no relatório disponível na CMVM acerca desta questão das reclamações (pag 187) e que muito elucidará sobre a contribuição do sistema bancário e financeiro para esta questão.
http://www.cmvm.pt/CMVM/Publicacoes/Rel ... al2012.pdf----
Um fórum para acompanhar enquanto se bebe um café:
caldeiraodebolsa.jornaldenegocios.pt/
Um exemplo sobre a importância da informação, e da forma como os bancos "suavizam" a venda de produtos financeiros complexos.
caldeiraodebolsa.jornaldenegocios.pt/viewtopic.php?p=782680&js_link=1
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Declaração de interesses:
Tenho um gestor de conta, como muitos de vós.
Tenho um portfolio diversificado de aplicações financeiras, nomeadamente DPs, ações do NASDAQ e PSI 20, e obrigações de caixa de bancos portugueses.
Tenho disponibilidade financeira para investir em produtos financeiros.
Mas nunca me sugeriram um produto financeiro estruturado.
Porque será?