Sou daqueles que ia em criança ao estádio (de Alvalade, no meu caso) ver a bola,com o meu Pai e os meus irmãos, desde os 6 anos de idade.
Acreditem ou não, SIM,
vi o Eusébio jogar, MESMO… é certo que naquele dia na nossa bancada não se festejaram os seus dois golos...
https://www.wikisporting.com/index.php? ... *(1972-01-02 SPORTING – Benfica- 0-3)
Foi talvez o meu primeiro contato com a noção de que o mesmo personagem pode ser herói ou vilão, consoante a camisola que enverga.
A minha Mãe, o único elemento feminino da família, não ia. Sempre dizia que as poucas vezes que tinha ido, para fazer companhia ao noivo, interessara-lhe mais observar o público do que os jogadores. Sob essa influência, ainda criança eu passei a reparar nesse aspeto: uma massa humana quase exclusivamente masculina, ansiosa por escoar as suas tensões individuais
em catarses coletivas.
O fim da adolescência trouxe-me um desinteresse pelo lado desportivo do futebol, mas mantive o interesse sociológico. Já não ia ao estádio, mas o futebol passou a vir até todos, tentou ocupar o resto da semana, tornou-se omnipresente, invasivo, entorpecente até, os seus símbolos e rituais ganharam tentáculos e outros significados. Continuei a ter muito o que observar e refletir.
Muitas mulheres passaram a mostrar interesse no futebol, muitas mais do que antes. E de uma forma como quase nunca antes. Como participantes.
Este mês dei-me conta de que tenho passado muito ao lado de um fenómeno tão forte e consequente para este tema: o
campeonato mundial de futebol feminino veio mostrar-me o quanto tenho estado desatento a essa evolução do mundo desportivo e da sua importância para toda a sociedade.
Atenção muito concentrada em outros temas? -sim, sem dúvida. Mas este é um tema que está ligado a todos os outros…
Algo mudou na minha (espero que na nossa, coletiva...) , consciência e atenção a esse fenómeno, a essa evolução da realidade. Deixei os preconceitos, os machismos e os pruridos de género no lado de fora da janela para que os leve o vento, e acompanhei alguns jogos. Jogam bem, têm garra, têm técnica, têm táticas, têm espírito de luta e de equipa, e têm uma razão acrescida para as motivar: recuperar anos, décadas, séculos de atraso e de subjugação.
Vou atrasado, mas agora corro junto com elas, as Kikas, as Jessicas, as Andreias e todas as Marias com disposição para mostrar que só temos que ser superiores a nós próprios. E próprias.
E claro que ainda há muito para correr.
E sim, sem dúvida, reconheço que depois do jogo de hoje gostaria de comemorar com a Salma (ai!, que gazela…)
, e que a generalidade dos outros novos adeptos dariam duas gloriosas voltas ao estádio com a Alexia Putellas,
Seguramente… mas não é isso o que está em causa... Que os nossos pensamentos lúbricos não afetem uma realidade em progresso... temos com quem e aonde afogar a luxúria, sem beliscar o traseiro a essa realidade.
Uns links para reflexão:
Na Arábia Saudita, as mulheres só foram autorizadas a jogar futebol em 2020, mas o país quer patrocinar o próximo Mundial feminino
https://tribuna.expresso.pt/futebol-fem ... o-cb8fc5dfFUTEBOL FEMININO
Entre mulheres, o futebol é mais leal
https://www.publico.pt/2023/07/31/despo ... al-2056917Escolha de vestuário feminino gera polémica um pouco por todo o mundo
https://jornaleconomico.pt/noticias/esc ... mundo-5129Andebol praia: jogadoras da Noruega multadas por usarem calções no jogo
https://maisfutebol.iol.pt/modalidades/ ... es-no-jogoOlé e Arriba, muchachas!
De todo o Mundo...
Joguem bem e com respeito, e de resto bom proveito.