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 Reformas na educação pública 
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Ouro
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Mensagem Reformas na educação pública
Beret,

Essa "boca" da aluna para a stôra tem que se lhe diga... [bigsmile] [bigsmile] [bigsmile]

Ainda nem tinha reparado que existia um tópico sobre um tema tão quente na política nacional.

Considero que sou muito sensível ao tema dado que já leccionei no ensino secundário e universitário, e, ainda hoje, sinto que a minha verdadeira vocação na vida é e será sempre ensinar, seja em que nível for.
O meio empresarial tem grandes desafios e a componente remuneratória é bem mais aliciante. Confesso que fui seduzido por este meio. No entanto, hei-de voltar!!!! [bigsmile] [bigsmile]

Quando voltar, vou encontrar, finalmente, um sistema ( [-o< [-o< [-o< ) de avaliação de desempenho célere, justo, ágil, etc... sonho???? hummm hummm Talvez. [bigsmile] [bigsmile] Quando começei a leccionar, recordo-me do que se queria implementar para avaliar os professores e, confesso, era de rir. O actual modelo não é o melhor mas podem-se aproveitar algumas virtudes.

Ainda há bem pouco tempo (meses) tive oportunidade de esmiuçar (agora está na moda esta expressão :smt005 :smt005 ) o sistema de avaliação de desempenho onde me deparei com legislação aprovada à pressa, formulários intermináveis, cedências no modelo após as conversações com os sindicatos, desempenho dos professores com base nas notas dos alunos badd badd , os pais com direito a ter uma componente de influência nessa mesma avaliação, etc... e tal.

É caricato como as "coisas" feitas por um grupo de advogados consegue parir uma montanha de papelada e uma estrutura base do processo tão débil. Algumas coisas estão bem pensadas como dividir a carreira em duas vias para quem tenha um desempenho excelente de forma consecutiva... mas o modelo pecou essencialmente numa coisa:

- Ninguém foi capaz, previamente, de mostrar à Sra. Ministra e aos seus assessores, como se faz uma avaliação de desempenho no sector empresarial privado onde se utilizam ferramentas state-of-the-art contribuindo, por exemplo, para a desmaterialização de processos evitando duas das dores de cabeça dos docentes: a burocracia e a complexidade excessiva. ](*,) ](*,) ](*,) ](*,)

Há vários anos que existem plataformas de avaliação de desempenho líderes no mercado (SuccessFactors, Cezanne, StepStone, Saba, Plateau, ....) com ligação a componentes de desenvolvimento, recrutamento, análise salarial, gestão de carreiras e modelos de compensação (remuneração). Que oportunidade fantástica perderam para aplicar o SIMPLEX. [bigsmile] [bigsmile] [bigsmile]

O governo tem ainda ao seu dispor vários milhões disponíveis no Plano Tecnológico para investir neste tipo de problema... mas resolveu fazer as coisas começando pelos "burocratas" e sem ouvir as pessoas certas. badd badd badd

Alguns queixam-se de que andámos a deitar dinheiro à rua com o Magalhães???? Sinceramente, há tantos milhões que não gastamos ou se gastamos, o fazemos inutilmente, que estes são muito bem empregues e mais outros seriam em propostas que não sairam da gaveta à espera de um governo com TOMATES (vulgo, guizos) :smt005 :smt005 :smt005 !!!!!.

Há... sim... há muitos mais milhões por aí e o Plano Tecnológico é apenas um deles... nem sonham. [bigsmile] [bigsmile]

Será que o novo governo estará preparado para mais uma batalha?

Ab.

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23 Set 2009

 
 
Diamante
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Mensagem Re: Reformas na educação pública
Fazendo fé nas reivindicações da FNE, iremos certamente assistir a tempos muito conturbados.

É ler para crer:


AS PRIORIDADES REIVINDICATIVAS DA FNE

72. Revisão do Estatuto da Carreira Docente dos Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário, nomeadamente:
- eliminando a prova de ingresso (ou de avaliação de conhecimentos e competências para ingresso na docência);
- eliminando a divisão dos docentes em duas categorias hierarquizadas;
- diminuindo o tempo de duração da carreira docente para acesso ao topo;
- definindo um novo regime de avaliação de desempenho que deve ser estabelecido para ser concretizado respeitando tempos e mecanismos adequados de experimentação e avaliação antes da sua generalização;
- eliminando as quotas na atribuição de quaisquer menções de avaliação de desempenho;
- redefinindo as regras de organização dos horários de trabalho dos docentes e de distribuição de serviço docente, respeitando o tempo para a formação contínua, definindo limites claros para a componente não lectiva de trabalho de estabelecimento, incluindo nestas as horas para as reuniões de natureza pedagógica, impedindo a atribuição de mais do que 3 níveis curriculares a cada docente dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e do ensino secundário e de mais do que uma turma para os professores do 1.º ciclo;
- assegurando e clarificando, entre as várias administrações educativas nacionais, o regime e as condições de mobilidade entre os vários quadros intranacionais
73. Revisão do actual regime de concursos de docentes, nomeadamente eliminando os efeitos da avaliação de desempenho sobre a graduação profissional, anualizando a sua execução e substituindo o nível local de recrutamento previsto para as escolas TEIP;
74. Redefinição dos quadros de docentes por escola/agrupamento de escola, em função das suas necessidades de funcionamento, quer em termos de garantia dos currículos estabelecidos, quer das ofertas educativas de apoio que forem necessárias, ao nível da educação especial e do apoio educativo;
75. Revisão da formação inicial de docentes, de forma que garantidamente assegure as bases de actividade profissional de qualidade e de exigência;
76. Definição de mecanismos de cálculo do tempo de trabalho extraordinário que for necessário realizar, com identificação da forma de cálculo da sua compensação;
77. Definição de regras claras sobre as dimensões das turmas com que cada docente trabalha, tendo em linha de conta as especificidades dos alunos que as constituem, e respectivo número de níveis de conhecimentos, não podendo em caso algum exceder os 22 alunos;
78. Determinação de regras específicas de compensação do desgaste decorrente do exercício profissional, em reconhecimento do desgaste físico e psíquico, agravado pelo prolongamento da carreira por via da alteração do regime de aposentação, criando-se, para o efeito, condições específicas de acesso à aposentação;
79. Eliminação do desconto para a ADSE imposto aos aposentados;
80. Estabelecimento de mecanismos que salvaguardem o direito a um tempo de aposentação vivido com dignidade, sem que se introduzam factores de degradação do valor das pensões, e com compensação de situações recentemente introduzidas e que conduziram à sua desvalorização
81. Afirmação da autonomia profissional docente, com exigência do respeito pela capacidade individual de cada um para determinar os métodos adequados para criar ambientes de aprendizagem propícios;
82. Identificação das tarefas administrativas e burocráticas que têm vindo a ser desempenhadas pelos docentes e que estas passem a ser realizadas pelo pessoal não docente de que as escolas devem dispor, nomeadamente para este efeito;
83. Revisão do regime de gestão das escolas, procedendo à redistribuição de funções e competências entre os diferentes órgãos de gestão, identificando as funções cujo exercício carece de formação especializada, valorizando os cargos pedagógicos e de coordenação, sublinhando o reforço da autonomia do estabelecimento de ensino, de formas adequadas de participação dos diferentes membros da comunidade educativa, e de funcionamento democrático dos seus órgãos de gestão;
84. Revisão do regime de formação contínua dos docentes;
85. Recuperação da contagem do tempo de serviço prestado entre 30 de Agosto de 2005 e 31 de Dezembro de 2007, para efeitos de progressão em carreiras, para todos os trabalhadores da educação;
86. Contagem do tempo de serviço perdido pelos docentes, no âmbito do mecanismo de transição para a nova carreira;
87. Tendo em conta que: “ao Estado incumbe criar condições que possibilitem o acesso de todos à educação e à cultura e que permita igualdade de oportunidades no exercício da livre escolha entre a pluralidade de opções de vias educativas e de condições de ensino” (Lei n.º 9/79, de 19 de Março);
88. Compete ao Estado apoiar as instituições (particulares, misericórdias, IPSS e outras) de modo a que as famílias, no exercício dos seus direitos, relativamente à educação dos seus filhos, possam ter acesso a escolas em condições de igualdade com as escolas públicas;
89. Compete ao Estado apoiar as instituições de modo a que sejam criadas condições de trabalho e uma carreira motivadora aos docentes, que no exercício das suas funções contribuem para um ensino de qualidade;
90. Correcção de eventuais efeitos negativos ou perversos decorrentes da aplicação dos novos estatutos das carreiras docentes do ensino superior universitário e politécnico
*. Clarificação e melhoria do regime jurídico das instituições do ensino superior
*. Revisão do regime fundacional na gestão do ensino superior
*. Determinação de formas de reconhecimento do trabalho prestado pelos docentes do Ensino Português no Estrangeiro, possibilitando aos mesmos a progressão na carreira, assim como condições dignas de exercício de funções e actualização salarial adequada;
94. Criação de mapas de pessoal próprio dos agrupamentos de escolas e das escolas não agrupadas que contemplem as profissões não docentes e que devem prever lugares específicos para as áreas funcionais que forem relevantes;
95. Integração em todas as escolas da rede pública, de todos os trabalhadores não docentes que exercem funções permanentes em regime de trabalho precário (como determina o artigo 14º da Lei nº 59/2008, de 11 de Setembro);
*. Clarificação das regras de gestão do pessoal não docente abrangido pelos contratos de execução celebrados com os Municípios ao abrigo do Decreto-Lei nº 144/2008, de 28 de Julho;
97. Determinação da obrigatoriedade de 35h por ano de formação contínua para todos e cada um dos trabalhadores não docentes;
98. Promover a formação profissional contínua do pessoal não docente com programas e modalidades consentâneas com as novas exigências legais e devidamente financiada pelo QREN;
99. Promover acções de formação para avaliadores e avaliados, com vista ao desenvolvimento de uma cultura de avaliação fundada no rigor e na equidade;
100. Exigir a efectividade da aplicação da Lei nº 66-B/2007, de 28 de Setembro, no que respeita à actuação dos avaliadores e dos diferentes actores em sede de avaliação de desempenho de pessoal não docente;
101. Revisão do regime de avaliação de desempenho dos trabalhadores em funções públicas, eliminando as quotas na atribuição das menções de avaliação;
102. Revisão do Regime de Vínculos, Carreiras e Remunerações da Administração Pública;
103. Determinação do princípio de consideração em sede fiscal as deduções decorrentes da participação na formação contínua e na actualização científica e profissional.

Nem sei de hei-de :smt005 ... ou :cry:

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Do meio em que fui criado. - Antonio Aleixo

26 Out 2009
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Mensagem Re: Reformas na educação pública
Este é o dialecto que se fala nas negociações da educação. Para que a educação dê um salto em frente, é necessário mandar toda esta gente (FNE, Ministério da Educação) para casa e partir do zero.

26 Out 2009
Bronze

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Mensagem Re: Reformas na educação pública
Esta nova ministra tem a vantagem de ser professora. É esperar para ver. Agora espero que ela não ponha como leitura obrigatória para a miudagem os livros da colecção "Uma Aventura" ! :D

26 Out 2009
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Mensagem Re: Reformas na educação pública
Esta senhora vai ser como a ministra da gripe A: vai servir para parar com todas as reformas (note-se que achei a anterior ministra uma pessoa abominável) e tornar o ministério um ministério pastoso, em que nada se passa. Se as coisas correrem mal, vai pagar sozinha. Estou convencido de que só vai ser autorizada a falar em público de vez em quando.

Parece que a anterior ministra despachou até à data três ministros. Um curriculum destes desaconselharia a nomeação para o governo, mas se calhar eles não sabiam.

26 Out 2009
Diamante
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Mensagem Re: Reformas na educação pública
Bruno Wanderley Escreveu:
101. Revisão do regime de avaliação de desempenho dos trabalhadores em funções públicas, eliminando as quotas na atribuição das menções de avaliação;


A cereja em cima do bolo , aparece já mesmo no finalzinho , do caderno reivindicativo... :wink:

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26 Out 2009
Confrade

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Mensagem Re: Reformas na educação pública
Caro amigo "Diamante", isto só prova, que o Governo do PS, não queria em nada melhorar o sistema de educação, e que isso nunca os motivou... o que pretenderam foi simplesmente poupar uns tostões... Porque foi só isso que estas reformas conseguiram... Mais uma derrota... E de derrota em derrota, até à derrota final.

Cordialmente, sempre a considerá-lo, ou não seja "Diamante"

Asmodeus

30 Out 2009
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Mensagem Re: Reformas na educação pública
jolinho Escreveu:
Parece que a anterior ministra despachou até à data três ministros. Um curriculum destes desaconselharia a nomeação para o governo, mas se calhar eles não sabiam.


Desculpem; eu pretendia dizer "três maridos."

30 Out 2009
Ouro
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TD's nos últs 90 dias: 0 - Voyeur
Mensagem Re: Reformas na educação pública
Toda a gente sabe que qualquer sistema de avaliação seja em modelo público ou privado tem de haver quotas.... senão éramos todos os génios e com um alto desempenho. :---) :---) :---)

Todos nós sabemos que nas empresas existe quem proceda a avaliações de desempenho com base em critérios que vão muito além do objectivo... e mais não digo pois exemplos não faltariam.

Mas as cedências do PS aos sindicatos chegam a ser caricatas... eu que esmiucei o modelo de avaliação da ministra da educação só tenho a dizer que de tudo o que li e reli... só me chocou verdadeiramente uma coisa entre várias pequenas aberrações (confesso que a intenção é muito boa):

- o modelo de definição de objectivos é uma ANEDOTA!!!!!

Para colocar a cereja no topo do bolo, puseram uma cambada de burocratas a conceber este modelo... logo, só podia dar em papel, papel, papel, papel ........ não há pachorra. São tantas as fichas para cada interveniente diferente, no processo, que até mete dó. Do avaliado ao coordenador de departamento curricular passando pelo avaliador de avaliadores... muitas vezes personificado na figura de Presidente do Conselho Executivo... enfim... venha o diabo e escolha um IMPRESSO!!!!!! FDX Já Volto ! ! ! FDX Já Volto ! ! !

O Dr. Zorrinho abra mas é os cordões à bolsa (que tem muita pasta no PT) e aprenda com os sistemas de avaliação de desempenho do sector privado assim como as boas práticas. O SIADAP não é mais do que um repositório de competências e como tal nem serve de exemplo útil... enfim.

Ab.

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30 Out 2009
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Mensagem Re: Reformas na educação pública
Caro "prateado" Jolinho:

Se o Jorge Amado viesse de novo à terra, faria o upgrade do seu livro "Dona Flor e seus dois Maridos" e escreveria decerto " Milú e os seus 3 Maridos"!

O "Pincel" faria a adaptação e a Maitê, faria de Milú! O sucesso seria garantido!

05 Nov 2009
Bronze

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Mensagem Re: Reformas na educação pública
Caros :

Parece que a nova patroa da Educação, tem um currículo pessoal de muito peso: esposa do Dr Rui Vilar! No PS, encontrar melhor seria impossível!

Quanto ao resto, parece que além dos livros, também fez parte da "geração de ouro" que por volta dos anos 80, foi a Boston, à sucapa dizia-se Bosta, fazer em 2 meses o up-grade da sua licenciatura!

E assim vamos indo...

10 Nov 2009
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Mensagem Re: Reformas na educação pública
É mesmo, assim vamos indo. Penso que vai ser uma ministra, à imagem da da saúde, para parar com tudo e resolver assim os problemas. E nós ficamos cada vez mais longe de uma educação em condições. A única solução, IMHO, seria uma bomba de neutrões selectiva, que atacasse todos os especialistas em questões de educação e toda aquela gente louca que vive dentro daquele ministério e que se considera proprietária da educação. Com as estruturas desfeitas, os profs. ficavam livres para trabalhar com os seus alunos e a educação passava a centrar-se na sala de aula. O objectivo passaria a ser que os alunos aprendessem. Era assim como que um terramoto de 1755 sectorial.

10 Nov 2009
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Mensagem Re: Reformas na educação pública
É necessário pacificar as relações com os professores, para depois se passar ao mais importante que é a escola, saber que tipo de ensino queremos, que tipo de educação queremos para as nossas crianças e estabelecer uma definição clara dos direitos e deveres que tanto o professor e o aluno são titulares, bem como os moldes que a relação entre professor e aluno se deve estabelecer. Como uma casa, não se constrói pelo telhado, desde logo, é importante começar pela escola primária, e analisar se o sistema vigente é o ideal, e senão é, quais as mudanças a operar.

Eu entrei para a escola primária pública em 1985. Defino esta altura como o "meio-termo", ou seja entre o que era escola primária antes de 1974 e o que é hoje. É claro, na altura, já ouvia dizer os meus pais e os meus avós, que no tempo deles "é que era", e que nos seus tempos com a antiga 4ª classe, sabiam mais do que muitos jovens que em 1985 andavam no liceu. Tanto os meus pais, como os meus avós, eram de aldeias do interior, daquelas onde o padre e o professor eram a lei, e onde pelas descrições,os professores aos meus olhos de criança,eram maus, ditadores, capazes de cometer as maiores arbitrariedades sem sofrerem qualquer consequência. No meu tempo em 1985, a posição do professor, já tinha mudado ligeiramente, já viviamos há 11 anos em democracia, o professor era alguém que nós viamos como boa pessoa, alguém a quem nós podiamos contar os nossos problemas pessoais, falar de futebol, contar anedotas, etc., etc. Mas ao mesmo tempo, ainda era visto como alguém a quem deviamos muito respeito. Ainda se usava a régua como castigo, não era nenhum drama, ninguém ia fazer queixa aos pais que o professor lhe tinha batido, muito pelo contrário, eram os pais que iam à escola dizer ao professor, para castigar os seus filhos, caso estes faltassem ao respeito.

Não quero entrar no cliché do "meu tempo é que era", mas olho actualmente para a escola primária e o que vejo não gosto: alunos que não podem reprovar, e que portanto, muitos deles chegam à 4ª classe sem saber ler nem escrever. Alunos que falam ao telemóvel nas aulas, e que quando são repreendidos, respondem um "vai-te foder" ao professor e ainda são aplaudidos pelos companheiros. Qualquer tentativa de disciplina por parte do professor é visto como algo de tenebroso e que vai traumatizar as pobres crianças e como tal, com azar ainda é o professor que acaba com um processo disciplinar. Computadores Magalhães dados às crianças, sem primeiro as ensinar a ler, escrever e a compreender.

E portanto parece que a educação se limitou a passar uma borracha pelo passado, assumindo que antigamente tudo estava errado, e não conservando ou procurando conservar aquilo que de bom existia, e nesse aspecto, realço a relação professor-aluno, em que para mim, a ideal era que existia no meu tempo, em que o professor já não era aquele "ser terrível" do antes do 25 de Abril, mas também não é aquela pessoa, como nos nossos dias, aquem não se deve respeito algum, e a quem se pode falar como se fala para um qualquer amigo na rua.

10 Nov 2009
Administrador

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Mensagem Re: Reformas na educação pública
Bem interessante, confrade morpheus. Deu-me vontade de escrever sobre a altura em que entrei para a escola (1962).

11 Nov 2009
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Mensagem Re: Reformas na educação pública
É claro que o sistema não era perfeito. A escolaridade mínima era bastante reduzida(6º ano), e estabelecia-se logo na primária uma "eilitização" dos bons alunos, quem tinha dificuldades, azar, ia ficando para trás, já que ainda existia a mentalidade instituida do "nem todos podem vir a ser doutores ou engenheiros".

Curiosamente, anos mais tarde, já na segunda metade da década de 90, o paradigma mudou, todos tinham que ser doutores e engenheiros, o que é muito bonito, agora os meios para atingir os fins, é que em algumas circunstâncias não foram os mais correctos, e mais uma vez, os governos da altura erraram fortemente na educação. Aparecerem em grande massa as universidades privadas, muitas há que reconhecer de elevada categoria(ainda o são hoje), outras sem qualidade, a funcionar com cursos, que ainda não estavam homologados, a oferecer cursos com nomes estranhos, que ninguém sabia, que saidas ofereciam, mas não interessava, o que interessava era o "canudo". Talvez aqui se encontre uma explicação para o elevado números de pessoas qualificadas sem emprego. Os cursos abriram às catadupas, sem a minima correspondência com a oferta de emprego da respectiva área. Dou o exemplo da minha área(Direito), onde o mercado está sobrelotado, e todos os anos licenciam-se não centenas, mas milhares de estudantes, o grosso em faculdades privadas, muitas de muito boa qualidade, outras de qualidade duvidosa. Apesar dos sucessivos apelos feitos, nomeadamente, pela Ordem dos Advogados, nunca nenhum ministro ou ministra da educação fez algo para mudar a situação. Em sentido inverso, temos falta de médicos, temos de "importar" médicos de Cuba, de Espanha, do Uruguai, e o acesso a uma faculdade de medicina em Portugal, só com uma média superior a 18 valores.

Mas lá está, algumas dessas universidades não era conveniente serem fechadas, serviam para "vender" diplomas a gente importante(tipo de engenheiro :D ),para negócios obscuros, e só quando os escândalos se tornaram públicos, é que os governo se viu obrigado a actuar, e mandou encerrar tais universidades.

11 Nov 2009
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