Reformas na educação pública
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Piotr
Registado: 07 Dez 2006 Mensagens: 2906
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 Reformas na educação pública
E isto não será consequência do já longo repúdio militante dos valores da famigerada herança "judaico-cristã" ???
_________________ So many girls, so little time...
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21 Mar 2008 |
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foulaam
Registado: 28 Nov 2006 Mensagens: 1959
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 Re: Reformas na educação pública
Piotr Escreveu: E isto não será consequência do já longo repúdio militante dos valores da famigerada herança "judaico-cristã" ???
?
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22 Mar 2008 |
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RUC
Registado: 27 Jan 2007 Mensagens: 1094
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 Re: Reformas na educação pública
Piotr Escreveu: E isto não será consequência do já longo repúdio militante dos valores da famigerada herança "judaico-cristã" ???
Possivelmente sim.
Eu, republicano e ateu, acredito que poderá ser verdade. A diminuição da presença da religião na nossa sociedade poderá ser o principal motivo pela perca de valores morais, com reflexos não só no sistema de ensino, mas em toda a sociedade.
Não é por ser ateu que não tenho apreço pela fundamental importância que a religião cristã teve (e ainda tem) na civilização que somos hoje. Todos os nossos fundamentos morais são baseados na moral cristã, para o bem e para o mal.
O Estado central com meios repressivos é uma invenção moderna. Em sociedades feudais e descentralizadas, sem meios de repressão significativos, apenas o poder das ideias (neste caso a religião) foi capaz de moldar e controlar sociedades. Nesses tempos (e agora também, noutras longitudes) a lei de Deus era efectivamente a Lei dos Homens. E nós somos produto desses tempos.
Mas, Marquês de Piotr, esses tempos terminaram. Poderemos passar mais cem anos a trocar acusações sobre quem teve a culpa, mas a realidade não irá mudar.
As instituições religiosas já não tem o poder que tiveram, e o Estado não o vai substituir. Estamos a evoluir para uma sociedade descentralizada, onde a educação e os princípios morais não são implementados sobre o peso do pecado, mas sim da responsabilidade perante o outro.
Se vai funcionar… não sei, mas sei que não vamos voltar para trás. Por muito que custe a quem tem saudades de algum tempo mítico (místico) que já passou.
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22 Mar 2008 |
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Piotr
Registado: 07 Dez 2006 Mensagens: 2906
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 Re: Reformas na educação pública
Aleluia! (isto é por ser Páscoa…), caro RUC, os meus cumprimentos pela análise.
Quero no entanto fazer algumas observações muito breves.
A religião foi fundamental para a formação da nossa sociedade, e a sua contribuição foi variando ao longo dos tempos para o estabelecimento de um código de valores éticos, cívicos e morais. Mas o culto religioso já não é indispensável para que se mantenham esses valores. É preciso é que eles existam e sejam cultivados pelo Estado. O problema é que os “livres pensadores” ao quererem afastar a religião e tudo mudar, deitaram fora também esses valores. Nos países menos permeáveis às ideias da revolução francesa não houve tanto essa preocupação, e em alguns como os nórdicos, a igreja tem até relações muito íntimas com o Estado – coisa que pessoalmente me incomoda. E no entanto estão entre os mais “avançados”.
Embora significativamente tenham sido os republicanos a transformar Portugal num adjectivo (república portuguesa), não é propriamente a questão de se viver em república ou monarquia que importa neste caso. É sobretudo a filosofia política – quando existe… - que está subjacente ao programa de quem governa. Veja-se Espanha: um reino com um governo que afronta muitos dos tais valores tradicionais e no entanto com o apoio da maioria da população… até ver.
Os tempos não terminam nem voltam atrás. Evoluem sempre, e por vezes dão voltas bem estranhas. Cumpre-nos, não o saudosismo, mas sim indicar os caminhos que entendemos serem os melhores.
_________________ So many girls, so little time...
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22 Mar 2008 |
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RUC
Registado: 27 Jan 2007 Mensagens: 1094
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 Re: Reformas na educação pública
Bem Piotr... vamos por partes.
Eu disse "possivelmente sim" exactamente porque não sei se isso é verdade (admito que sim), mas principalmente porque não sei se estamos, enquanto sociedade, a perder valores morais ou apenas a ganhar outros. O fim do monopólio da religião na implementação dos nosso princípios morais trouxe novos desafios. Como não existem propriamente dados estatísticos sobre o assunto, só poderemos especular.
Aliás, por cá, não foram os republicanos os primeiros responsáveis pelo ataque ao poder da igreja católica e da religião em geral. Foi o mui monárquico Marquês de Pombal que iniciou esse sentimento anticlerical, foi a monarquia parlamentar que extinguiu as ordens religiosas e vendeu os seus bens em hasta pública. Ao pé disto, o nosso Afonso Costa é um jacobininho de trazer por casa. Quanto à história do adjectivo... vá lá! Não entendo como podem criticar essa pequena parvoíce ao pé do facto de terem transformado a bandeira nacional, com séculos de história, na bandeira do partido republicano.
Agora sobre o papel do Estado. Eu espero que o Estado não se meta nesse assunto, não lhe cabe a ele substituir a religião e as suas instituições, e as tentativas de o fazer tiveram resultados, digamos, assustadores.
Vivemos tempos mais incertos, onde os princípios morais deverão ser promovidos, vividos e implementados descentralizadamente, por cada um de nós. Se isso vai (ou está) a resultar, não sei. Mas vemos as novas gerações mais tolerantes em relação a estilos de vida tidos como desviantes até há pouco, e eu acho que isso é bom. Naturalmente agora irás enumerar outros indicadores que não consideras positivos, e terás seguramente razão. É sempre uma questão de ponto de vista.
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23 Mar 2008 |
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Piotr
Registado: 07 Dez 2006 Mensagens: 2906
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 Re: Reformas na educação pública
Certamente que nenhum de nós vai “salvar” a nossa civilização. Mas volto também ao assunto pois vejo repetidas um par de ideias que o não merecem.
O marquês de Pombal perseguiu os jesuítas – e não todo o clero – no contexto das novas doutrinas do iluminismo, e na defesa da supremacia do poder real sobre o poder da Igreja. Provavelmente nunca pensou sequer em monarquia versus república. Do mesmo modo foi já no tempo da monarquia parlamentar que o governo extinguiu as ordens religiosas em nome de um liberalismo reforçado pela ideia do homem novo, e não propriamente por causa da instituição real, que nessa altura já não detinha o poder executivo.
Afonso Costa (o mata-frades) fez o pleno, acumulou em si mesmo a chefia do Partido Republicano e do ódio ao Rei, do Partido Democrático, do anticlericalismo extremista como ministro da Justiça e Cultos, foi mais que uma vez chefe do governo, e naturalmente, era um destacado dirigente maçon no GOL.
Também penso que ao Estado não compete substituir a religião e as suas instituições – nem sequer as Misericórdias… - mas deve orientar a evolução do código de valores que fundamenta a vida da sociedade. Se os tais princípios morais e cívicos forem determinados e vividos por cada um de nós sem um padrão de referência, se o Direito não se fundamentar num código de valores coerente, não haverá profeta que nos salve… É o meu ponto de vista.
p.s. também gosto de GPs
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23 Mar 2008 |
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foulaam
Registado: 28 Nov 2006 Mensagens: 1959
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 Re: Reformas na educação pública
RUC Escreveu: A diminuição da presença da religião na nossa sociedade poderá ser o principal motivo pela perca de valores morais, com reflexos não só no sistema de ensino, mas em toda a sociedade. Não é por ser ateu que não tenho apreço pela fundamental importância que a religião cristã teve (e ainda tem) na civilização que somos hoje. Todos os nossos fundamentos morais são baseados na moral cristã, para o bem e para o mal.
1) Porquê? Por que motivo hei-de eu ou tu ou qualquer pessoa precisar de uma religião qualquer para distinguir o que é certo ou errado? Não somos capazes sozinhos? Só se houver um Grande-Pai-Lá-Em-Cima a dizer isto é bom e aquilo é mau é que chegamos lá? E como até hoje o Grande Pai nunca foi ouvido a falar mas apenas os seus porta-vozes apenas humanos e terrestres que em nome dele se contradizem e exterminam alegremente, como saber - por essa via - onde estão e quais são os tais... valores?
2) "Todos os nossos fundamentos morais são baseados na moral cristã, para o bem e para o mal"?... na maioria, são apenas baseados no mero bom senso (não roubar, não matar, não fazer aos outros o que não queres que te façam a ti.... & etc) que não têm nada de especificamente cristão e são comuns a "n"
culturas, povos, civilizações e religiões ou não religiões. No que ela (religião/moral judaico-cristã) tem de específico é quase invariavelmente para o mal. Para não ir mais longe, se a levássemos a sério nenhum de nós estaria aqui registado. Ainda bem que nenhum de nós a leva a sério. 
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24 Mar 2008 |
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RUC
Registado: 27 Jan 2007 Mensagens: 1094
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 Re: Reformas na educação pública
Foullam, mais logo respondo, embora pense que estás a pôr questões litúrgicas ao vigário. Eu sou uma audiência mais que convencida... 
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24 Mar 2008 |
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foulaam
Registado: 28 Nov 2006 Mensagens: 1959
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 Re: Reformas na educação pública
RUC Escreveu: Foullam, mais logo respondo, embora pense que estás a pôr questões litúrgicas ao vigário. Eu sou uma audiência mais que convencida... 

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24 Mar 2008 |
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White Knight
Registado: 14 Jun 2007 Mensagens: 1402
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 Re: Reformas na educação pública
foulaam Escreveu: White Knight Escreveu: A qualidade de ensino pode ser comprada (para quem tiver essa possibilidade), mas não devia ter que ser comprada. Pagamos impostos, investimos imenso na educação, temos professores bem pagos... Mas face ao que se discutiu em cima, quem puder que pague em duplicado e fica com menos um problema, talvez o mais fácil de resolver... Investimos mas só €€€. O erro trágico deste ME (e dos outros todos anteriores) foi ter entregue a formação dos profs à máfia do "eduquês" e das "pegagogias" da treta e ter criado sucessivas levas de profs cientificamente medíocres mas muito, muito, muito compreensivos, pedagogos e amiguinhos. Agora querem "avaliá-los". Se a avaliação for a sério (claro que nunca irá ser) vão descobrir que de facto a maioria é muito má. Só que quem estará a ser avaliado não serão os profs mas 30 anos de política de formação de profs. E não há-de tardar muito que mesmo os privados tenham de ir recrutar profs ao mercado estrangeiro. Se os quiserem minimamente competentes. Vários pontos em que estamos de acordo. Entre os quais, a maioria é muito má. Até porque se pedires a uma amostra de alunos licenciados para calculara o perímetro de um circulo, mais de 2/3 não serão capazes... e se calhar 50% não sabem o que é um perímetro Mais, estou convencido que 2/3 não sabem que 1 litro são 1000 cm3... isto dá-se na quarta classe, se bem me lembro. Se não sabem, de quem é a culpa ? Agora voltando ao teu comentário, nota que tens razão - a culpa não é só dos professores. Mas não te esqueças que através do voto, as políticas do sucessivos ministros vai sendo avaliada, o que de certa forma "desresponsabiliza-os".... Nem vale a pena falar das alternativas quando votamos, mas é um facto. O que não pode acontecer, é ficarmos estagnados, estáticos a discutir o sexo dos anjos. É preciso acção, e já. Relativamente aos professores do privado, tens razão. Aliás um dos meus boys trata o prof por Mr. e eu gosto. foulaam Escreveu: White Knight Escreveu: Mas há algo de fundamental que nunca ninguém fala, e será para mim talvez o factor pelo qual não saímos do lodo. Como se transmite aos putos um espírito vencedor ? Em que eles acreditem que não há limites, e que através do trabalho podem atingir tudo ? Quando lhes puderes mostrar que há de facto algo por que valha a pena lutar. Enquanto eles tiverem a noção de que no fim do curso o mais provável é irem conduzir um taxi, trabalhar num call-center ou na caixa de um hiper do tio Belmiro, vai continuar a cultura magrebina do-mais-esperto-é-quem-se-safa-seja-lá-como-for.
Estás a ser algo redutor... É aquela história do:
Don't ask what your country can do for you, but what you can do for your country
Só estamos é com 50 anos de atraso...
A analogia, é a tal falta de pica... Porque é que os jovens não pensam em construir o seu próprio futuro ? Em arriscar, empreender ?
Podes fazer várias comparações: em França, 75% dos jovens querem ser funcionários públicos, nos estados unidos a mesma percentagem quer trabalhar por contra própria, no oriente deve ser ainda mais.
Em Portugal, os jovens não te dão resposta...
Nem sabem o que querem ser, um empregozito (não trabalho), segurança, uma casa que quando acabarem de pagar estão às portas do cemitério, e depois logo se vê.
Estão castrados de ambição. É triste.
E não me venhas com a história que é difícil. Claro que é. Mas por incrível que pareça as pessoas mais bem sucedidas que conheço e com quem lido (e até são bastantes), não são as mais bem preparadas intelectualmente nem as com mais estudos. São as que em tempos arriscaram...
Eu chamo-lhes os jovens Nike - JUST DO IT. A inacção é uma coisa terrível.
(Curiosamente, no meio desta falta de ambição, as PSP não se enquadram, até porque sacrificam-se, correm riscos, por uma vida melhor)
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24 Mar 2008 |
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foulaam
Registado: 28 Nov 2006 Mensagens: 1959
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 Re: Reformas na educação pública
White Knight Escreveu: Estás a ser algo redutor... É aquela história do:
Don't ask what your country can do for you, but what you can do for your country
Tens bastante razão mas não tens a razão toda.  Quero dizer: para essa pica ter terreno favorável para surgir tens de ter um horizonte mínimo de sucesso que te faça acreditar que isso é possível e vale a pena"dar o litro". O que é especialmente importante num país com uma tradição secular de viver-à-conta-do-subsídio e do apoio seguro da mesada do papá-Estado. Para convencer alguém a desistir disso e arriscar (e não te esqueças que mesmo no caso da iniciativa privada a regra continua a ser - de uma maneira ou outra - sonhar com a teta estatal) é imprescindível um clima político, social e económico completamente diferente em que os exemplos de êxito verdadeiramente independente se multipliquem e permitam acreditar que é possível ir lá sem o "empurrãozinho" do senhor deputado amigo da prima do vizinho da tia ou sem aquela "palavrinha" do vereador que deve um favor ao pai que trabalha na redacção do jornal da região e tem relações muito próximas com o presidente do clube da bola local.
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24 Mar 2008 |
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RUC
Registado: 27 Jan 2007 Mensagens: 1094
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 Re: Reformas na educação pública
foulaam Escreveu: RUC Escreveu: A diminuição da presença da religião na nossa sociedade poderá ser o principal motivo pela perca de valores morais, com reflexos não só no sistema de ensino, mas em toda a sociedade. Não é por ser ateu que não tenho apreço pela fundamental importância que a religião cristã teve (e ainda tem) na civilização que somos hoje. Todos os nossos fundamentos morais são baseados na moral cristã, para o bem e para o mal. 1) Porquê? Por que motivo hei-de eu ou tu ou qualquer pessoa precisar de uma religião qualquer para distinguir o que é certo ou errado? Não somos capazes sozinhos? Só se houver um Grande-Pai-Lá-Em-Cima a dizer isto é bom e aquilo é mau é que chegamos lá? E como até hoje o Grande Pai nunca foi ouvido a falar mas apenas os seus porta-vozes apenas humanos e terrestres que em nome dele se contradizem e exterminam alegremente, como saber - por essa via - onde estão e quais são os tais... valores?1º nem eu nem tu precisamos de religião alguma para distinguirmos o certo do errado, mas tens que admitir que os nossos "certo" e "errado" tem curiosas semelhanças com algo que foi escrito à cerca de 3 milénios. É claro que isso pode ser coincidência... eu duvido. 2º eu já escrevi atrás (em conversa com o nosso marquês), que admito que a diminuição da presença da religião na nossa sociedade poderá ser o principal motivo pela perca de valores morais, mas não tenho isso como certo. Apenas considero que é uma possível e válida explicação. foulaam Escreveu: 2) "Todos os nossos fundamentos morais são baseados na moral cristã, para o bem e para o mal"?... na maioria, são apenas baseados no mero bom senso (não roubar, não matar, não fazer aos outros o que não queres que te façam a ti.... & etc) que não têm nada de especificamente cristão e são comuns a "n" culturas, povos, civilizações e religiões ou não religiões. No que ela (religião/moral judaico-cristã) tem de específico é quase invariavelmente para o mal. Para não ir mais longe, se a levássemos a sério nenhum de nós estaria aqui registado. Ainda bem que nenhum de nós a leva a sério.  3º se encarares a moral judaico-cristã (estou a falar dos 10 mandamentos, nas suas inúmeras variações interpretativas) do ponto de vista operativo (o que eu não faço, porque não acredito) tens toda a razão. Mas se a encarares do ponto de vista histórico e do modo como esses princípios afectaram e moldaram a civilização ocidental, como alguns deles foram (e são) essenciais para a estabilidade social na redução de potenciais conflitos. Podes então admitir que todos nós somos um produto dessa moral, para o bem e para o mal. 4º dito isto, voltamos à questão da aplicação da moral... RUC Escreveu: O Estado central com meios repressivos é uma invenção moderna. Em sociedades feudais e descentralizadas, sem meios de repressão significativos, apenas o poder das ideias (neste caso a religião) foi capaz de moldar e controlar sociedades. Nesses tempos (e agora também, noutras longitudes) a lei de Deus era efectivamente a Lei dos Homens. E nós somos produto desses tempos.
5º não penso que a "nossa" moral judaico-cristã seja especificamente má. Pelo menos em comparação com outras. Sobre se a levamos a sério ou não... bom isso é uma questão operativa, e como eu não acredito na punição divina, selecciono apenas os princípios que concordo (como tu...). Mas isso corresponde a uma grande transformação que se iniciou por volta do século XVIII, e da qual nós também somos produto (aliás, nós dois se calhar devemos mais ao iluminismo que à religião, mas isso é coisa pessoal não civilizacional)
6º agora o que realmente te irrita (e a mim também) - O conceito de pecado! Como tu, também eu não acredito no pecado. Aliás, para quem não acredita num Deus omnisciente e omnipresente e pecado faz muito pouco sentido. Embora esse sentimento tenha sido transformado numa outra coisa, a "dor de consciência". Essa dor é apenas o conceito do pecado adaptado por teorias psicanalistas. É a pseudo-ciência a tentar explicar o que para muitos deixou de fazer sentido, utilizando o mesmo mecanismo mas sem a ameaça de punição eterna
7º mas olha que é bem possível "levar a sério" tudo o que falámos antes, e ainda assim estar inscrito aqui. A nossa mui anciã ICAR instituiu à séculos uma válvula de escape que permite aos seus fieis não dissidirem, ainda que não cumpram porra nenhuma do que deveriam: É só pagar a bula, que eles metem uma cunha com o altíssimo. E depois admiram-se porque é que a corrupção nos países católicos do sul da Europa é sistémica. Ela é divina!
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25 Mar 2008 |
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RUC
Registado: 27 Jan 2007 Mensagens: 1094
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 Re: Reformas na educação pública
Piotr Escreveu: Certamente que nenhum de nós vai “salvar” a nossa civilização. Mas volto também ao assunto pois vejo repetidas um par de ideias que o não merecem.
O marquês de Pombal perseguiu os jesuítas – e não todo o clero – no contexto das novas doutrinas do iluminismo, e na defesa da supremacia do poder real sobre o poder da Igreja. Provavelmente nunca pensou sequer em monarquia versus república. Do mesmo modo foi já no tempo da monarquia parlamentar que o governo extinguiu as ordens religiosas em nome de um liberalismo reforçado pela ideia do homem novo, e não propriamente por causa da instituição real, que nessa altura já não detinha o poder executivo. Afonso Costa (o mata-frades) fez o pleno, acumulou em si mesmo a chefia do Partido Republicano e do ódio ao Rei, do Partido Democrático, do anticlericalismo extremista como ministro da Justiça e Cultos, foi mais que uma vez chefe do governo, e naturalmente, era um destacado dirigente maçon no GOL.
Também penso que ao Estado não compete substituir a religião e as suas instituições – nem sequer as Misericórdias… - mas deve orientar a evolução do código de valores que fundamenta a vida da sociedade. Se os tais princípios morais e cívicos forem determinados e vividos por cada um de nós sem um padrão de referência, se o Direito não se fundamentar num código de valores coerente, não haverá profeta que nos salve… É o meu ponto de vista.
p.s. também gosto de GPs
Pequenas discordâncias:
- O Marquês de Pombal não perseguiu apenas os jesuítas. Também foi atrás de beneditinos e dominicanos. Aliás, o seu ataque a certas ordens não foi necessariamente anti-religioso, apenas queria separar as ordens religiosas do ensino (especialmente no ensino universitário).
- "Mata Frades" foi a alcunha de Joaquim António de Aguiar (podes ver a sua estátua na entrada de Coimbra), ministro do reino, nomeado por D. Pedro IV após a guerra civil. Responsável pela extinção das ordens religiosas em Portugal e posterior venda do seu património em hasta pública. Sendo monárquico e liberal (estou a ver que esta questão liberais/conservadores é fracturante na causa real...) implementou diversas reformas que provocaram inúmeras revoltas, a maior parte das quais por motivos religiosos. De certeza que António Costa o tinha por bom exemplo, mas daí a usurpar os seus feitos...
Pequenas concordâncias:
- Afonso Costa terá sido destacado dirigente maçon, mas os outros dois anteriores, diz o mito, que também o foram (se calhar, a fractura liberais/conservadores é mais profunda que republicanos/monárquicos).
- Eu também gosto 
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25 Mar 2008 |
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RUC
Registado: 27 Jan 2007 Mensagens: 1094
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 Re: Reformas na educação pública
Agora... back to basis! (já agora, Piotr e WK, não dá para criar uma nova posta com a questão civilizacional e moral, eu sei que está relacionada, e que a conversa descambou para aí, mas é outra coisa...)
White Knight Escreveu: White Knight Escreveu: A geração que está entrar no mercado, não está preparada para o desafio global, e a que se encontra em formação, duvido que vá a tempo de corrigir a trajectória É que não vai mesmo a tempo... O problema é tão complexo, as posições estão tão "pré-estabelecidas" na mentalidade (tacanha) da maioria das pessoas, que vai mesmo ser muito difícil. Este tópico, terá uma relação subliminar com o da revolução. Só mesmo assim lá iremos. Creio. (e já agora quem será a pessoa minimamente capaz, que esteja para aturar isto ??) Gosto deste tópico porque penso muito sobre este assunto, tenhos putos e obviamente quero o melhor para eles. E o melhor passa por estarem devidamente preparados para o "mundo global" ai pelos 22/24 anos. Como se chega lá ? Eu valorizo 3 factores: a qualidade de ensino, a educação e "pica de ganhar". A qualidade de ensino pode ser comprada (para quem tiver essa possibilidade), mas não devia ter que ser comprada. Pagamos impostos, investimos imenso na educação, temos professores bem pagos... Mas face ao que se discutiu em cima, quem puder que pague em duplicado e fica com menos um problema, talvez o mais fácil de resolver... Em contrapartida a educação, na verdadeira ascensão da palavra não pode ser comprada (então se for ensino público nem falo...). Cabe aos Pais, aos avós, enfim a quem rodeia os putos, educá-los e transmitir-lhe valores. É difícil e trabalhoso, é certo. ( e a merda são os morangos, e os colegas de 7 anos com telefones de 500 € e tal e coisa), mas lá se vai levando a coisa a bom porto (espero). Mas há algo de fundamental que nunca ninguém fala, e será para mim talvez o factor pelo qual não saímos do lodo. Como se transmite aos putos um espírito vencedor ? Em que eles acreditem que não há limites, e que através do trabalho podem atingir tudo ? Obviamente que a maioria não chegará lá, mas os 5 ou 10% bem sucedidos serão o motor da criação de emprego e da economia. E servirão de exemplo para uma geração melhor. Espanha é o que é porque o povo tem este espírito. Inditex, Imaginarium, Santander, ..... Transmitir este espírito caberá aos pais (e não é fácil), mas o estado podia dar uma ajuda. Os EUA adoptaram um modelo que funciona bem e é barato: desporto. Mas não é só por os putos a correr à volta da escola. Nada disso, é organizar competições, criar brio, transmitir a noção de sacrifício.... E já agora, a TVI podia dar alguma cobertura a algumas provas, em vez de em prime-time entrevistar a vizinha do 3drt-traz, por causa da bilha de gáz que explodiu no prédio em frente.... Enfim.... Não há paciência... Desculpem lá, tenho andado fugido e postado pouco, mas o meu amigo Hang anda meio pálido (para não dizer branco cadavérico).... WK
Pois também considero que esses são os três factores essenciais para o sucesso das futuras gerações (e passadas, já agora...)
Mas penso que apenas deveríamos concentrar a Escola no primeiro factor. Um dos problemas do nosso sistema de ensino foi quererem que respondesse a questões demasiado complexas, que a sociedade em si não consegue resolver. Eu não quero uma escola inclusiva, democrática, educativa ou pedagógica. Gostava mesmo de um sistema de ensino que estivesse focado em ensinar, transmitir conhecimentos, métodos de aprendizagem, hábitos de estudo. Que fosse justo a premiar o esforço e inflexível para quem não quer aprender (estou mesmo a falar da exclusão do sistema para quem não cumprir as regras básicas de vivência em sociedade).
O resto... o resto é responsabilidade nossa (os país, avós, tios, etc...) tanto na parte da educação como na da competição. Temo é que a expectativa de grande parte dos pais de hoje seja a de que a Escola eduque os seus filhos (ou pelo menos, os entretenha a maior parte do dia). Se isso for mesmo verdade, não há Estado que nos salve...
E também concordo que o desporto é um dos melhores meios para ganhar a "pica de ganhar" de que falas. Desde que seja praticado com o intuito de mostrar que o esforço, o trabalho, o sacrifício pessoal são essenciais para ganhar uma competição. Mas quando vejo putos de 15 anos a simularem faltas em jogos de futebol tenho as minhas dúvidas... Talvez o melhor seja meter o puto na natação!
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25 Mar 2008 |
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White Knight
Registado: 14 Jun 2007 Mensagens: 1402
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 Re: Reformas na educação pública
foulaam Escreveu: White Knight Escreveu: Estás a ser algo redutor... É aquela história do:
Don't ask what your country can do for you, but what you can do for your country Tens bastante razão mas não tens a razão toda.  Quero dizer: para essa pica ter terreno favorável para surgir tens de ter um horizonte mínimo de sucesso que te faça acreditar que isso é possível e vale a pena"dar o litro". O que é especialmente importante num país com uma tradição secular de viver-à-conta-do-subsídio e do apoio seguro da mesada do papá-Estado. Para convencer alguém a desistir disso e arriscar (e não te esqueças que mesmo no caso da iniciativa privada a regra continua a ser - de uma maneira ou outra - sonhar com a teta estatal) é imprescindível um clima político, social e económico completamente diferente em que os exemplos de êxito verdadeiramente independente se multipliquem e permitam acreditar que é possível ir lá sem o "empurrãozinho" do senhor deputado amigo da prima do vizinho da tia ou sem aquela "palavrinha" do vereador que deve um favor ao pai que trabalha na redacção do jornal da região e tem relações muito próximas com o presidente do clube da bola local.
Nós estamos totalmente de acordo. Os problemas que referes são apenas um handicap adicional, contudo:
- tu e eu temos a experiência necessária para entender que é muito difícil, um miúdo de 20 anos, se já está com essa ideia de "dificuldade", "impossibilidade" na cabeça, nunca vai tentar e estamos bem lixados. É que não é natural...
- O que é necessário, é olhar para o panorama, analisar onde se pode fazer algo e agir. Chama-lhe bencharming, swot, o que quiseres. É que nem tudo é mau por cá: a habitação é económica, os custos de trabalho são competitivos, as rede viária até que são razoáveis, as tecnologias de informação reduzem as distâncias... enfim, nem tudo é mau, e há que saber tirar partido do menos mau... Não é o ideal, mas é o possível. Por outra lado, como se diz, em terra de cegos, quem tem um olho é rei.
Mas, e isto é fundamental, é necessário colocarmos-nos numa situação de Europeus e tirar partidos dessa vantagem. O índice do poder de compra em Lx é 106%, no Porto 65% e em Londres 330% (considera-se 100 a média europeia). Ou seja, face às populações Londres ( Paris e outras cidades) tem mais poder de compra sozinhas do que Portugal inteiro  Por que raio é que só investimos em Portugal e um pouco em Espanha (mercado ultra competitivo e difícil, para já não falar do proteccionismo e nacionalismo mais do que presentes).
Existem falhanços incríveis, por exemplo do têxtil e calçado, em que mesmo com a Inditex a inicializar a internacionalização na Rua St. Catarina com a Zara, não fomos capazes de "imitar" a verticalização de processos mais do que óbvia e obrigatória.
Contudo, neste sector, existem alguns casos de sucesso como a Aerosoles, a Lanidor ou a Fly London (gosto desta, acho piada à mosca http://www.flylondon.com/ ) que nos provam que é possível.
- E as oportunidades existem e são muitas. Cabe ao estado dar aqui uma ajuda e orientar as empresas e as associações. Dois exemplos:
Nos próximos 20 anos, na índia, vão entrar na classe média 300 milhões de pessoas. Já se estudou o que estes novos consumidores vão desejar ? E o que temos de interessante para oferecer ? É agora que tem que ser preparada a estratégia, 10 a 20 anos antes...
E os milhões de chineses "filhos únicos" que vão ser uns miúdos mimados com pais cheios de nota ? Temos algo para eles ? E se não temos podemos inventar ?
Nós somos só dez milhões, não seria assim tão difícil ocupar esta gente...
É necessárias visão estratégica, como teve o Aznar, mas isso não se consegue nem com delegações do ICEP, ou AICEP ou lá como se chama agora, que mais parece estão a tirar pós graducções em finger food...
O que não pode acontecer, é deixarmos de tentar pelo estado que temos.
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25 Mar 2008 |
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