Sonda europeia vai pousar num cometa (artigo extraído do DN)
Será uma estreia absoluta. Se tudo correr bem, em novembro do próximo ano, um engenho terrestre descerá pela primeira vez na superfície de um cometa, o 67P/Churyumov-Gerasimenko
Após um longo sono de dois anos, sete meses e 12 dias, é tempo de acordar. É o que sucederá à sonda europeia Rosetta, a 20 de janeiro, quando forem 10.00 exatas (hora de Lisboa). Em viagem há quase dez anos, depois de ter sido lançada em 2004, a sonda da ESA, a agência espacial europeia, está, enfim, a poucos meses de cumprir a sua extraordinária missão: chegar muito perto de um cometa e fazer aterrar na sua perigosa superfície um pequeno robô para a estudar e caracterizar. Esta será a primeira vez que um engenho terrestre vai aventurar-se no solo de um astro viajante e, se tudo correr bem, a missão será um marco pioneiro nas atividades do espaço em 2014.
Antes do mais, porém, é preciso que a nave desperte da hibernação em que mergulhou na última fase da sua viagem, para poupar energia. A bordo da Rosetta, o despertador já está em contagem decrescente e, em terra, o entusiasmo - e a ansiedade - aumenta, à medida que os ponteiros avançam.
Se tudo correr como previsto, a sonda despertará automaticamente à hora certa. No Centro Europeu de Operações Espaciais (ESOC, na sigla inglesa), em Darmstadt, na Alemanha, os controladores terão de esperar mais de sete horas antes de poderem receber os primeiros sinais da nave, confirmando que está pronta para o seu encontro histórico.
A Rosetta estará então a 800 milhões de quilómetros da Terra. Os seus sistemas demorarão pelo menos sete horas a ficar operacionais e só depois disso a sonda apontará a sua antena para a Terra, para confirmar que tudo corre bem. Quando isso acontecer, os controladores no ESOC saberão que ela acordou, ligou o sistema de posicionamento e os motores e, nesse ponto, a oito milhões de quilómetros do cometa que é o seu alvo, o 67P/Churyumov-Gerasimenko, está a postos para a derradeira e a mais complexa fase da sua longa viagem.
O que se segue, à velocidade de 2880 km/h, será uma aproximação relativamente rápida ao alvo. Em março e abril os primeiros instrumentos a bordo serão ligados, por comandos dados a partir de Terra, e entre maio e julho, com o 67P/Churyumov-Gerasimenko pela primeira vez detetável no seu horizonte, a nave fará as últimas correções de trajetória. Com todos os instrumentos operacionais em agosto, a sonda instalar-se-á então numa órbita entre os cem e os vinte quilómetros de altitude do 67P/Churyumov-Gerasimenko, para fazer a sua caracterização meticulosa. Essa informação será crucial para a fase seguinte, marcada para novembro: a descida do pequeno robô Philae na superfície do astro que vai estudar a sua estrutura, a química das suas poeiras e gases e tentar identificar moléculas orgânicas.
Os cometas, diz Mark McCaughrean, diretor científico da missão, "são cápsulas do tempo, que encerram informação sobre os primórdios do sistema solar e o nosso objetivo é abrir esta cápsula do tempo para olhar para essa era do princípio do sistema solar".
Para largar o Philae sobre a superfície do 67P/Churyumov-Gerasimenko, que os cientistas acreditam ser rugosa e pouco acolhedora, a sonda aproximar-se-á até à distância de um quilómetro de altitude do solo e o Philae descerá então, a caminho do seu destino. Ao tocar o solo, fixará as suas três pernas no solo e começará a sua missão autónoma. Vai fazer imagens do ambiente, e equipada com pequenos laboratórios, realizará análises químicas do solo, das poeiras e das partículas presentes. E com isso, espera-se, poderá dar respostas a muitas das perguntas que andam no ar sobre o sistema solar, a sua formação e evolução.
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