Antes, muito antes de começar a prestar culto ao deus Príapo, fui um seguidor de Onan. Ou seja, portuguesmente falando e pondo de parte as referências clássicas, fui um punheteiro antes de ser um fodilhão e um putanheiro. Na minha verde juventude, nos tempos anteriores a ter-me despedido da virgindade num curto e desastrado choque com uma muito afoita criadita da minha avó, começado a ter actividade sexual, mesmo que muito irregular, e tido a minha primeira experiência com uma mulher que se me entregou em troca de numerário, a mão foi a minha primeira e grande fonte de prazer sexual. Portanto, Onan antes de Príapo.

Nessa altura, ainda não havia a estonteante e desvairada profusão de materiais impressos, audiovisuais e cibernéticos que são hoje o deleite do batedor de serenas, do aviador de sarapitolas, do esgalhador de pecegueiro, do manipulador de sarda. Seja ele um pré-adolescente borbulhento no primeiro degrau da descoberta do incomensurável mundo do sexo, seja ele um experientíssimo septuagenário, fatigado de tanto sentir bocas e línguas no pau, varar rachas, desbravar rabos e deleitar-se com enlaces sáficos.

Nesse tempo, anterior ainda ao 25 de Abril e ao estrondoso, caudaloso rebentar das barragens dos interditos sexuais de toda a sorte, que abrangeram dos filmes, livros e revistas até aos costumes, e que acabaram por conduzir ao cansaço e ao blasé daquilo que antes era desejado e clandestino, os estímulos masturbatórios eram bem mais parcos e inocentes. E no meu caso, eminentemente gráficos e literários.

Das fotografias um nadinha mais ousadas de uma estrela de cinema ou de uma starlette em ascensão (ai! Sylva Koscina dos meus 12 anos...), publicadas na Flama ou no Século Ilustrado que a minha avó comprava assiduamente, e das reportagens dos orgiásticos carnavais brasileiros que a Manchete ou o Cruzeiro esparramavam em números especiais todos a cores vivas, adquiridos na tabacaria do já desaparecido Monte Carlo, passando pela Fanny Hill, de John Cleland, pelos Esplendores e Misérias das Cortesãs, de Balzac, pela Lolita, de Vladimir Nabokov, pelos Nexus, Sexus, Plexus e Trópicos desse erudito pornógrafo e porcalhão cosmopolita e boémio Henry Miller, e por uma Justine de Sade, trazida à sorrelfa de Paris por um tio putanheiro e cúmplice, de tudo me servi para servir intensa, ofegante, metodica e abundantemente a Onan.

Pívias com motor de arranque mais hollywoodesco, tropical e livresco, muito poucos devem ter executado como eu.Tendo sempre o cuidado de não deixar em parte alguma vestígios comprometedores e vergonhosos da minha actividade manual, quer a actividade fosse consumada na minha cama, à luz discreta do candeeiro de leitura, quer na sala de estar de casa da minha avó, quando ela estava ausente na província e a colecção de revistas com fotos um tudo nada mais carnais de mulheres da tela ficavam inteiramente à disposição dos meus ardores hormonais juvenis.

Se considerarmos que a masturbação também faz parte da educação sexual, funcionando como um prólogo ansioso, sôfrego e solitário, como uma oficina secreta e pessoal de trabalhos manuais prévios aos trabalhos carnais a sério, então a minha foi feita à custa de todas essas curvilíneas vedetas e aspirantes a vedetas, de incontáveis folionas dos desbragados entrudos além-Atlântico, e de uma mão-cheia de escritores mais ou menos "malditos" cujas obras os meus pais, leitores omnívoros, tinham acessíveis nas prateleiras de trás das estantes, em edições passadas por baixo do balcão por livreiros amigos.

In illo tempore, era assim (também) a punheta em Portugal. Porque no princípio, é sempre a mão.

Onanismo = coitus interruptus (embora, vulgarmente, confundido com a muito prática a portátil "sarapitola")

http://en.wikipedia.org/wiki/Onan

Antes de comecar a andar temos de aprender a gatinhar

Excelente exercício literário, caro confrade Edu!

Confrade Foulaam, sempre com a mão na erudição clássica...

Confrade Eduardob, como de costume, um texto divinal e em que nos faz transportar para aquela idade já pouco inocente e em que a mente avança sempre mais do que o corpo.

E, neste caso, quando a direita cansa, a esquerda avança!

Os meus parabéns e, acima de tudo, o meu obrigado!