Eu também assisti a umas boas semanas de recepção aos alunos...
Aliás, eu cheguei a assistir a vários Tribunais do Caloiro, em que além de alguns professores participarem de forma activa, eram mais um teatro feito por "veteranos" para divertir os caloiros que outra coisa qualquer...
A unica coisa que (particamente) existia de praxe era as pinturas no rosto! E existia restrições nos materiais com que se podia pintar.
E só por causa dessas pinturas já existia muita discussão interna, por ser considerado excessivo.
Até as cenas malcheirosas eram proibidas, embora uns engraçadinhos utilizassem à socapa.
Andar a gritar com os caloiros não era prática corrente. Existiam uns elementos estipulados para o efeito que gritavam, mas era mais no sentido de indicar para que lado eles se deviam dirrigir, para irem para as actividades.
E mesmo isso tudo, sendo bem mais soft que hoje em dia, estava sempre a ser discutido e ponderado, e era por muitos considerado exagerado.
Tudo começava com os "veteranos" a ajudarem nas inscrições. Os caloiros não tinham sequer de escrever. Os "veteranos" é que preenchiam os formulários, acompanhavam o caloiro à secretaria, á tesouraria, etc.
Portanto o primeiro impacto era excelente.
Um gajo chegar à Universidade, pronto para ser praxado, e ter umas 3 ou 4 meninas, todas simpáticas e atenciosas, a fazerem-nos a papinha toda... era um luxo.
Depois era uma semana de actividades, quase todas elas baseadas em jogos e cantorias, mas muitas vezes com algo de pedagógico. Caças ao tesouro que serviam para aprender mais depressa os cantos à universidade, tarefas que eram o espelho do que era necessário fazer no dia-a-dia na universidade, como por exemplo ir tirar fotocópias, requisitar um livro, etc.
Havia uns jogos que em que a malta fazia umas figurinhas rídiculas, mas eram mais divertidos que humilhantes.
Basicamente quase tudo parecia os "jogos sem fronteiras".
Atribuiam-se padrinhos, que muitas vezes davam ou emprestavam material de estudo aos caloiros.
As turmas do 2º ano tinham o hábito de ir jantar uma vez com as turmas do 1º ano, para motivar os caloiros a fazerem umas jantaradas.
E o mais engraçado é que as piores praxes que vi nesses anos foram feitas a "veteranos" que se esticavam nas praxes aos caloiros.
Normalmente eram uns tarados, com brincadeirinhas sexuais, que se aproveitavam da altura para tentar umas brincadeirinhas tristes com caloiras giras.
Eram colocados em frente aos caloiros todos, e esses sim eram praxados um bocadinho mais a sério.
Uma vez um desses "chico-espertos" recusou-se a ser praxado. Esbracejou, gritou, barafustou e... não foi praxado. No entanto, logo ali foi feita uma exposição publica do que aquele aluno tinha feito.
O gajo, mais tarde, mudou de universidade porque quase ninguém falava com ele.
Basicamente as "semanas de recepção aos alunos" eram uma grande festarola para o caloiro.
Essa altura era um paraíso comparado com o que vi há poucos anos na Expo.
As gajas acho que eram piores que os gajos. Completamente histéricas, pareciam ter um prazer enorme em humilhar ao máximo.
Só via era gente molhada e suja, lama, merda, gritos.... e caras tristes ou zangadas.
E acho "engraçado" quando dão a hipótese a um aluno de não participar nas praxes, mas depois castigam-no proibindo de usar traje académico ou de participar no baile de gala.
Isto é, para se poder participar em algumas tradições, essas sim que têm algum sentido e finalidades "normais", tem de se aceitar a "tradição" da praxe, por mais humilhante e violenta que ela seja.
E para tentarem que isso sirva de incentivo para a malta aderir às praxes, até escrevem essas proibições no livro de regras, ou no código, que escrevem para parecer mais "importante" ou legal.
Para grandes males, grandes remédios! Proibam as praxes...
Desde há 20 anos para cá, as praxes têm vindo a ser cada vez mais exageradas, a todos os níveis , em praticamente todas as universidades... e parece que estão praticamente fora de controlo!
Tanto que o que me espanta mais no caso do Meco é que são praxes feitas a membros da comissão de praxe (não eram caloiros), bem longe da escola e bem fora do horário de ensino.
Portanto, qual a finalidade e a lógica dessas praxes?
Não será concerteza "receber, acolher e integrar os novos estudantes recém chegados a uma nova instituição".
Assim sendo, parece só que vão tentando fazer cada mais e pior... só porque sim!
O Dux manda, e a malta faz o que o Dux manda, por mais descabido que seja?
Praxar membros da comissão de praxes, no meio de Dezembro, bem longe da escola, num fim-de-semana organizado para o efeito?!?
Deixem-me adivinhar.... a malta até pagava tudo e o Dux não pagava nada?
Mas que raio de droga alucinogénica andaram eles todos a fumar?
O mais macabro é que ontem li que eles responderam às velhotas do Meco:
"Isto é uma praxe. Uma experiência de vida."
É que isso é a ironia mais aterradora que ouvi nos ultimos tempos, pois aquilo foi "uma praxe, uma experiência de morte".
É no que dá quando se vai tentando fazer cada vez mais praxes e cada vez piores... só porque sim!
