tigrão Escreveu:
Eu tenho de agradecer aos confrades a formação que me estão a dar neste forum e que eu genuinamente valorizo.
Hoje aprendi outra lição.
Se o Benfica perde perante um adversário que fecha lá atrás e joga no contra ataque, então o resultado é injusto porque o Benfica jogou melhor e merecia vencer.
Se é o Benfica a ganhar fechadinho cá atrás, então o resultado já é justo porque o Benfica teve o mérito de saber controlar o jogo e o JJ deu um banho de tática ao treinador adversário.
O confrade aprendeu bem. Porque basicamente foi isso.
O que me parece que não percebeu é que a 1ª situação é diferente da 2ª.
1) O Benfica perante um adversário que fechou lá atrás, jogou bem. A defesa do Braga não impediu que o Benfica criasse muitas oportunidades.
2) O Benfica contra o Porto teve o mérito de controlar o jogo. Porque fechar lá atrás (e o Benfica até defendeu muito à frente) pode ser bem feito ou mal feito. E o Benfica defendeu bem contra o Porto. Apesar do Porto ter tido o domínio do jogo, o Benfica não deixou que esse domínio fosse concretizado em tantas oportunidades quantas as que seriam de esperar. Andar a passear a bola longe da baliza do Benfica signifca posse de bola mas não significa oportunidades de golo.
Eu sei que é difícil dissociar o trabalho dum treinador da qualidade dos jogadores!
Quando um jogador vai pela esquerda em vez de ir pela direita, isso aconteceu porque o jogador decidiu por si só, ou porque o treinador treinou assim durante a semana?
Se um jogador tenta fintar é porque lhe apeteceu ou porque o treinador disse que naquele tipo de situações deve tentar fintar?
Se a equipa falha um golo é porque o jogador que falhou não tem qualidade ou porque o treinador escolheu mal o jogador que devia estar em campo?
Mas há padrões.
Há indicadores do que é resultado do trabalho do treinador e do que é resultado da qualidade individual dos jogadores!
Após o jogo contra o Porto eu escrevi:
"Quantas vezes não vimos os jogadores do Porto a ultrapassarem adversário e a encontrarem um 2º pela frente?.... ultrapassarem 2 adversários e a encontrarem um 3º pela frente?... até a ultrapassarem 3 adversários e a encontrarem um 4º pela frente?"
Isto é óbvio que é resultado do trabalho do treinador.
A forma de defender em equipa depende muito mais do trabalho do treinador, e muito menos da qualidade dos jogadores!
O treinador duma equipa senior, basicamente, tem de criar condições para que os seus jogadores, na sua forma de jogar colectivamente, criem situações de golo e diminuam as situações de golo do adversário.
E em muito menor escala, deve corrigir algumas lacunas individuais dos jogadores. Não os vai ensinar a jogar, nem vai criar competências completamente novas. Isso é nos escalões de formação.
Quando Jesus adapta um jogador a uma posição é porque detectou que o jogador já tem qualidades que se adequam a essa mesma posição (e tem mérito por isso). Depois existe a adaptação do jogador a uma posição nova. O jogador aprende algumas coisas que são específicas dessa posição. Mas tecnicamente o jogador não adquire novas competências. As qualidades ele já as tem ou não, grosso modo. O treinador duma equipa senior não ensina um jogador de 20 ou 25 anos a jogar futebol. O que é diferente de mudar a forma de jogar em função da equipa, por exemplo.
E é isto.... treinar a forma colectiva de jogar, colocar as peças certas nos sítios certos, adaptar a equipa em função do adversário ou outros factores externos, suprimir algumas lacunas individuais, e gerir e liderar os seus recursos humanos de forma a que eles tenham o melhor desempenho possível. É este o trabalho do treinador.
Mas não é o treinador que chuta as bolas. Não é o treinador que corre. Não é o treinador que defende.
O que julgo que foi dito pela maioria é que:
1) o Porto, devido à qualidade individual dos seus jogadores deveria ter criado mais situações de golo.
1) o Porto não deveria ter permitido a situação do 1º golo que sofreu, por ser uma situação que não é admissível em equipas e jogadores com aquela qualidade.
Pouco ou nada foi dito referido em relação ao 2º golo do Benfica.
Portanto:
1) Todos sabemos que os jogadores do Porto falharam golos nas situações que criou. É verdade. Foi azar, e isso já tinha sido referido.
Mas não deixa de ser verdade que perante a diferença de qualidade individual dos jogadores deveriam ter criado mais oportunidades.
E se não criou devido a falta de qualidade individual, então é porque a qualidade colectiva da equipa do Porto a atacar foi inferior à qualidade colectiva da equipa do Benfica a defender.
Benfica esteve bem, em grande parte devido á qualidade do trabalho do treinador.
2) O 1º golo sofrido pelo Porto, apesar de poder estar relacionado com falhas individuais (o Helton não deixava aquilo acontecer!), é sobretudo uma falha colectiva.
Os lançamentos do Benfica são os mesmos há 5 anos. A bola cai perto do 1º poste, e depois existe a probabilidade de caír num 2º momento em frente à baliza. Os jogadores do Porto não devem fazer marcação individual nesta situação. Jogadores a serem arrastados para junto do 2º poste ou para lá dele, ao perseguirem jogadores adversários? Isso não tem lógica. Se o jogador adversário corresse em diracção à bandeirola do lado contrário o jogador que o marca ia atrás dele? Os jogadores têm é de proteger bem o espaço em frente à baliza, sobretudo quando até já sabem onde provavelmente a bola vai caír. Não é propriamente uma novidade. Uma bola ser jogada naquele espaço por um jogador do Benfica, com uma parte do corpo que seja abaixo do pescoço é um erro crasso do colectivo. O Lima não cabeceou a 3 metros de altura, batendo em impulsão um adversário. Ele marcou com a perna ou com a anca, sei lá. A bola estava bem baixa, o que significa que existiu ali uma "cratera" que não devia de existir.
Em relação ao jogo do Benfica contra o Braga:
1) A equipa do Benfica, devido à diferença de qualidade individual deveria ter criado bastantes ocasiões de golo. Mas o mais interessante é que... criou mesmo!
O que é um bocadinho diferente do que aconteceu contra o Porto.
O Porto falhou algumas das poucas oportunidades que teve, e o Benfica falhou algumas das muitas oportunidades que teve.
O Porto teve azar nas ocasiões que criou mas, devido á diferença de qualidade individual, devia ter criado mais ocasiões do que criou.
O Benfica contra o Braga falhou as ocasiões que criou, mas de facto acho que criou tantas quanto as que se seriam de esperar atendendo á qualidade individual dos jogadores.
2) E em relação aos golos sofridos, particamente todos aqui disseram que com Luisão e Enzo em campo aqueles golos não teriam sido sofridos. Isto é o mesmo que dizer que o problema não foi tanto o trabalho colectivo da equipa, mas mais a diferença de qualidade dos jogadores que fez a diferença.
Não quer dizer isto dizer que o Sérgio Conceição não tenha algum mérito, ou que o Jesus não pudesse ter feito as coisas de forma diferente.
Nem quer isto dizer que o Benfica não teve alguma sorte em marcar em tão poucas ocasiões contra o Porto, e que o Porto não teve azar em algumas ocaisões que falhou.
O que significa é que o colectivo do Benfica teve mérito em anular as individualidades do Porto.
E que o Benfica contra o Braga, apesar da superioridade do colectivo, foi vítima de algumas falhas individuais.
Independentemente do facto do Braga ter jogado um pouco como o Benfica, isto é, mais em contenção e contra-ataque, do que em posse de bola e ataque organizado.
Portanto sim... no jogo Benfica contra o Porto, a vitória foi mais devido à diferença dos colectivos do que das indvidualidades.
E no jogo do Benfica contra o Braga a derrota foi mais devido a falhas individuais (e mérito das individualidades do adversário, nomeadamente o guarda-redes) do que a uma falha do colectivo.
E é por isso muitos de nós defendemos a continuidade do Jesus.
Ele não consegue influenciar muito a qualidade individual, mas pelos menos influencia a qualidade do colectivo.
